Qualquer governo que não tem um sistema de inteligência eficiente é perigosamente vulnerável. Assim é o governo Temer.
A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) se mostrou incapaz de informar o presidente da República sobre a pulverização da manifestação horizontal dos caminhoneiros, fato que o deixou sem meios de debelar a crise com a rapidez necessária.
Quando o governo tentou entabular o primeiro acordo com os caminhoneiros o fez atabalhoadamente, sem base, sem conhecimento da extensão do movimento e das lideranças com as quais devia tratar.
Ainda é visível o estado de desinformação dos ministros encarregados de negociar com os caminhoneiros.
Deu no que deu. A primeira tentativa de acordo subiu ao telhado. E o governo teve que se agachar diante dos grevistas, até porque eles estavam ou estão razoavelmente certos.
O antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) e suas Divisões de Segurança e Informações (DSI) espalhadas em todos os órgãos governamentais, que o presidente Fernando Collor extinguiu, atuavam com absoluta eficiência e, por isto, os governos da época agiam a tempo de evitar transtornos como o agora enfrentado pelo presidente Michel Temer.
Assustadora e perigosa a paralisação dos caminhoneiros. Em 1964, guardadas as devidas proporções, por menos caiu o presidente João Belchior Marques Goulart.
À semelhança de Temer, também vice, Jango assumiu o governo no bojo de uma crise que culminou com a renúncia de Jânio Quadros e a consequente vacância do cargo de presidente da República.
Fraco e inexperiente, Jango foi derrubado pelos militares e o resultado todos conhecemos, a escuridão que se fez sobre o Brasil durante vinte anos de ditadura.
Michel Temer, ao contrário, embora fraco, não corre o risco de ser ejetado do poder, por duas compreensíveis razões: nossa democracia está mais sólida e os militares têm mais o que fazer, que é cuidar de suas atribuições constitucionais. E mais, as eleições estão aí e as urnas trarão outras perspectivas, talvez melhores, espera-se.
O fato é que o presidente Michel Temer está espremido entre sua fraqueza e a ineficiência dos serviços de inteligência do governo, que não lhe passaram informações seguras sobre o perigo quanto à continuidade do movimento dos caminhoneiros.
Uma coisa é o Brasil andando mal. Outra é, diversamente, o Brasil parado.
Como um todo, a sociedade está sentindo os efeitos de um governo mal conduzido, ineficiente, negligente, risível.
A paralisação dos caminhoneiros criou caos assustador no Brasil. Entretanto, com um mérito: eles estão exercendo regularmente o direito de reivindicar, exigir, protestar.
Se houve ou está havendo exageros, cabe ao governo investigar e punir os culpados na forma da lei. Mas – parece – o exagero não está na forma como os caminhoneiros estão agindo, mas na incompetência do governo para conduzir a situação.
O governo de Michel Temer vive seus estertores. Está minado por corrupção de todos os lados, o que de resto é uma prática que governantes vêm adotando há décadas.
O governo não está podendo contar com suas próprias estruturas, porque ineficientes e apáticas e muito menos com o Congresso Nacional.
As casas do Congresso – Câmara dos Deputados e Senado Federal – pouco ou nada fazem em benefício da sociedade, porque se dedicam a criar subterfúgios legais para a sobrevivência de deputados e senadores, em detrimento da população.
O governo Michel Temer é tão-somente um arcabouço jurídico-político e administrativo necessário, mas incapaz de começar a extirpar os males do Brasil.
De qualquer forma, o movimento dos caminhoneiros serve de lição para o atual governo e para os próximos.
A maneira como o governo Temer vem conduzindo o acordo com os caminhoneiros ensina tudo que não se deve fazer numa negociação dessa envergadura, inclusive no que tange a erros primários.
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