A outra utilidade da panela

Na Bahia, o deputado Geddel Vieira Lima (MDB) guardava R$ 51 milhões de reais num apartamento, em dinheiro vivo. O homem foi vice-presidente da Caixa Econômica Federal e, mesmo assim, não confiava no banco. Nem em outros bancos. Preferiu guardar o dinheiro em casa. É mais seguro.

Em Mauá, simpático município encravado no ABC paulista, o prefeito acondicionava grande quantidade de dinheiro em panelas. Passou aproximadamente um mês no xilindró por conta disto, mas o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, entendeu que guardar dinheiro em panelas não é crime – e parece que não é mesmo – e mandou soltar sua Excelência.

Crime é se esse dinheiro tem procedência nos cofres públicos o que, no caso do prefeito de Mauá, ainda não está provado. Parece somente uma questão de precaução. O prefeito não confia em bancos, mas em suas panelas. Só isto.

A Polícia Federal entende que o dinheiro foi surrupiado dos pratos das crianças de Mauá e provém de merenda escolar. Uma insensatez, se for verdade.

Na mesma linha de raciocínio do baiano e cuidadoso Geddel, o paulista prefeito de Mauá também não confia na rede bancária e prefere guardar o dinheiro em sua cozinha, dentro de panelas. Pelo menos fica de olho nele. É mais seguro.

Em São Bernardo do Campo, também no ABC paulista, o ex-presidente Lula da Silva preferiu lavar dinheiro público, não em panelas, mas em sofisticadas propriedades. A Justiça e o sistema financeiro chamam isto de branqueamento de capitais. Expressão bonita, mas perigosa.

Isto é o que dizem as autoridades – Polícia Federal, Ministério Público e Poder Judiciário – mas Lula da Silva nega tudo e quem sou eu para dizer que ele é culpado? Ele diz que é inocente. Então, deve ser.

Há muita coisa para acontecer ainda, inclusive a previsível soltura de Lula da Silva no vindouro dia 26 de junho ou próximo disto. Ele deve ser solto, porque a prisão em segunda instância é uma aberração contra a Constituição Federal.

Contudo, o STF construiu um entendimento de que a confirmação da sentença penal condenatória em segundo grau de jurisdição autoriza a levar o condenado para a cadeia, mesmo que ainda existam recursos pendentes de julgamento.

Não é somente Lula da Silva que está nessa situação vexatória. Só em São Paulo, o Tribunal de Justiça expediu 13.887 mandados de prisão entre fevereiro de 2016 e abril de 2018, também por conta desse entendimento, mas o Partido dos Trabalhadores (PT) e aliados, que tanto defendem a liberdade de Lula, não se manifestam em favor desses presos, por uma razão muito simples: eles não votarão nas próximas eleições. Então, podem ficar mofando na cadeia.

Lula da Silva é o único aposentado do INSS que ficou rico no Brasil. O homem é exímio administrador do dinheiro de sua aposentadoria, coisa que os demais brasileiros aposentados não sabem fazer. É esta extraordinária e gigantesca capacidade de administrador que está prejudicando Lula da Silva.

Quanto à panela, nesses tempos modernos, ela também passou a ter outra utililidade: cofre.

araujo-costa@uol.com.br

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