Chorrochó: José Juvenal e a saudade que não pode esperar

Completar-se-á mais um ano que não vemos José Juvenal de Araujo na festa dos vaqueiros de Chorrochó.

Completar talvez não seja a expressão apropriada, porque a saudade não se completa nunca. Ela deixa sempre um vazio cruel, inominável, inarredável, que não há como preencher.

Preenche-se o vazio com outro vazio mais profundo, mais dilacerante, nunca a saudade.

Não falo de José Juvenal de Araujo político, tampouco do prefeito, do homem do povo. Este, todos já conhecem e dele já falei muitas vezes em artigos, crônicas, opiniões, textos longos e até, em certas vezes, incompreensíveis para quem lê.

Falo de Zé Juvenal amigo, sorriso franco, alegre, encantador, brincalhão, respeitador, prestativo e presente na vida de cada um de nós, que com ele convivemos.

Refiro-me a Zé Juvenal da adolescência, das saudosas manhãs ginasianas do Colégio Normal São José, dos encontros no Bar Potiguar, do alegre cair da noite nas ruas de Chorrochó.

Falo dos encontros boêmios, das conversas ingênuas e inofensivas. Situo-me numa quadra do tempo em que Chorrochó ainda apreciava o luar das serenatas, luar que hoje ignoramos.

Falo de Zé Juvenal das Caraíbas, admiravelmente atencioso com a mãe Bela e o pai Oscar, acolhedor, presente na vida de todos da família e do lugar.

Falo de Zé Juvenal construtor de amizades cordiais e amigos perenes, especialista neste particular. Falo de Zé Juvenal amigo, de presença sempre desejável. Cadê você, Zé?

Deste Zé Juvenal, a saudade não tem tempo de esperar para dizer. Diz a todo o momento, no entrelaçar das recordações e no inevitável das lágrimas.

Este Zé Juvenal não cabia em sua própria bondade, extrapolava-se em si mesmo para acolher amigos, parentes, conhecidos. Como Zé gostava de gostar dos amigos, dos tabaréus, dos humildes!

O Zé Juvenal que ainda amamos – e amaremos sempre – era assim: demais. Demais até demais. Tinha o coração generoso, a ternura visível, a essência da sinceridade, a solidez do acolhimento, a espontaneidade do abraço.

Mas este Zé Juvenal se foi. Podia ter ficado mais, podia ter enrolado um pouco para tomar o rumo da distância, a distância infinita da eternidade. Podia ter sentado no começo do caminho e combinado outra data para a partida.

Gostaríamos de continuar ouvindo suas piadas, seus “causos” engraçados e sua conversa mansa, cordata, agradabilíssima.

Zé Juvenal deixou família, amigos, parentes, admiradores, conhecidos. E deixou a marca de sua passagem por aqui, deixou a lembrança da convivência, deixou o indizível da saudade.

Os anos passam, mas é difícil passar a saudade de Zé Juvenal. Nunca passará.

Deste Zé Juvenal, dentre todas as lembranças que não esqueço, lembrarei sempre de uma pergunta generosa, altiva, sincera, que ele sempre me fazia: “Como vai, primo?”.

araujo-costa@uol.com.br

 

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