Sebastião Augusto de Souza Nery, baiano de Jaguaquara, jornalista, filósofo, advogado e escritor, a maior autoridade no Brasil em folclore político, conhece tudo de política, dos políticos e de cultura política.
Deputado estadual na Bahia (1963-1967) pelo Movimento Trabalhista Renovador (MTR), cassado em 1964 e deputado federal (1983-1987) pelo PDT do Rio de Janeiro, Sebastião Nery talvez não conheça todos os cafundós do Brasil, mas certamente já visitou a maioria dos municípios brasileiros, seus distritos, vilas, povoados, arruamentos e etc.
Sai de cada um deles com uma história na cabeça e farto material de pesquisa na mão, além de fatos, versões e testemunhos. E retrata, a partir daí, com impressionante fidelidade, o viver dos homens públicos, a sabedoria interiorana. Faz isto há décadas.
O presidente Jânio Quadros, nos momentos de descontração, quando se referia ao jornalista costumava dizer: “o Nery, que foi quase bispo…”, recordando que Sebastião Nery estudou no Seminário Menor de Amargosa e no Seminário Maior, em Salvador. Depois trocou a expectativa da batina pelo mundo e seu deu muito bem. E a Igreja Católica perdeu uma grande inteligência.
Nos seminários, possivelmente, está a base de sua vasta cultura. Conhece o mundo, conhece o Brasil, conhece sua aldeia. E é um profundo conhecedor da natureza humana.
Em um de seus bem elaborados textos, não me lembro exatamente qual, mas o tenho guardado em arquivo e peço venia para interpretá-lo, ele conta a história de um sujeito do interior de São Paulo, líder respeitável no lugar, que abandonou a política de repente, por razões desconhecidas. Um segredo que nem seus mais chegados amigos conseguiram descobrir. Desapareceu. Escafedeu-se.
Anos depois, um de seus amigos o encontrou, casualmente, numa penitenciária e quis saber por que ele estava ali. Eram amigos. Conversa vai, conversa vem, contou a história:
– “Comprei uma fazenda e fui cuidar de agricultura. Estava dando tudo certo, mas os passarinhos comiam folhas e sementes em minha plantação e começaram a voar de costas, todos de costas”.
“Os vizinhos acharam aquilo muito estranho e passaram a comentar nas praças da cidade, adjuntos, feiras, qualquer lugar, que em minha fazenda as aves estavam doidas, voavam de costas. Um dia a polícia apareceu por lá”.
– E daí?
– Daí, a polícia descobriu que eu estava plantando maconha.
Pode ser folclore, pode ser ficção, pode ser conversa mole de tabaréu do interior fazendo cigarro de palha. Mas, folclore ou ficção, pode servir como lição para quem quer tudo muito fácil e a vida não é fácil.
Lembro os escândalos de corrupção que estão surgindo no Brasil com frequência, a história de todos eles e os homens envolvidos, até então respeitáveis homens públicos.
Esses homens públicos precisavam passar por isto? Evidente que não. Há outras formas de fazer política e de respeitar a coisa pública.
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