Num evento que só tinha gente grande – e eu estava lá de enxerido – conversa vai, conversa vem, o assunto resvalou para a esfera do governo federal.
Quando não se tem assunto em qualquer reunião, para evitar que os convidados fiquem olhando uns para os outros, com cara de galo, sem assunto, com copos na mão, a melhor estratégia é falar mal do governo, qualquer governo, não importa se forte ou fraco, se municipal, se estadual, se federal.
Dá certo, sempre. Todo mundo concorda em espinafrar os governantes de plantão, exceto aqueles que se beneficiam dos cofres públicos. Para estes não existe governo ruim, porque vivem pendurados em generosas tetas e resistem em largá-las.
Estávamos na semana em que o ministro do Trabalho de Michel Temer, senhor Helton Yomura, envolvido numa enrascada sem tamanho, foi obrigado a pedir demissão.
A Polícia Federal o acusou de participar de um gigantesco esquema de fraude no Ministério do Trabalho.
O ministro pegou o boné e escafedeu-se.
Na ocasião, eu disse que o país que tem 14 milhões de desempregados, ou perto disto, não precisa de ministro do Trabalho. É inútil. Pra quê? Qual a função dele? Ser ministro. E só.
Uns concordaram, outros discordaram, a discussão ficou acalorada e eu saí de mansinho e fui embora. Melhor cantar noutro terreiro.
Agora descobrimos o que faz um ministro do Trabalho. Cuida de maracutaias.
No Brasil é assim. A esquerda, que nunca gostou de trabalhar, mas de fazer barulho, empanturrou o País de sindicatos. Há sindicatos para tudo, em qualquer esquina. Uma fonte de ociosidade, com as honrosas exceções, porque há sindicatos sérios, realmente preocupados com seus membros. É o caso dos inúmeros sindicatos dos trabalhadores rurais que arrostam dificuldades e estão espalhados por todo o Brasil.
Há até conflito entre sindicatos na mesma base territorial, porque alguns dizem que representam categorias já representadas por outros.
Para fundar um sindicato é simples. Basta declinar uma categoria, mesmo que não exista, pedir a inscrição no Ministério do Trabalho e aguardar o registro.
Como são muitos pedidos, os registros atrasam, a burocracia entra em cena e aparece a corrupção, aquela velha senhora milenária que está ao mesmo tempo em todas as repartições públicas.
Aí, um dos interessados no registro do sindicato oferece dinheiro aos responsáveis pela liberação no Ministério do Trabalho e não se fala mais nisto: surge mais um sindicato na constelação dos desocupados para viver à custa dos impostos que os brasileiros pagam, além das contribuições dos que realmente trabalham com carteira assinada.
A Polícia Federal disse que a função do ministro do Trabalho de Michel Temer era participar de fraudes envolvendo registros de sindicatos, uma espécie de testa de ferro de políticos inescrupulosos.
Sejamos justos. Com tanta ocupação, como o ministro tinha tempo de trabalhar?
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