O ex-governador cearense Ciro Gomes sempre apoiou Lula da Silva, bajulando-o pelo menos durante dezesseis anos. Foi adulador contumaz do cacique petista e até seu ministro.
Entretanto, no frigir dos ovos visando as composições eleitorais do primeiro turno das eleições de outubro próximo, o PT o defenestrou, cônscio de que corre perigo tendo-o em sua companhia na corrida eleitoral, até mesmo na condição de aliado.
Ciro Gomes diz que se surpreendeu com a decisão do PT. Lorota. Ele conhece o PT a fundo, mas não quer admitir a ingratidão sofrida e tem esperança que a situação mude.
Trata-se de canibalismo habitual do PT: devora os próprios aliados quando vê seu poder ou expectativa dele ameaçado.
Com o imbróglio da prisão de Lula da Silva, que comanda as negociações políticas de dentro do cárcere, o PT não tem mais tempo para fazer composições e atrair aliados.
Desesperado, o PT mete os pés pelas mãos. Alijar de sua chusma uma liderança do quilate de Ciro Gomes parece mais suicídio político do que estratégia eleitoral. Convenhamos, não é uma boa astúcia.
Lula da Silva – que sabe tudo de negociação política e entende de maracutaias como poucos – orientou o PT para deixar Ciro Gomes de lado, por enquanto, já que, em conjecturas, o cearense não aceitou ser vice na suposta chapa presidencial de Lula que, tudo indica, disputará a eleição sub judice.
O problema é que há uma diferença sutil entre candidatura sub judice e candidato inelegível. Sutil, mas considerável.
Concernentemente ao caso de Lula da Silva, parece razoável entender que ele se situa no campo da inelegibilidade, porque foi condenado por órgão colegiado e isto é o que a lei prevê para o candidato tornar-se inelegível.
A disputa sub judice é possível, natural e comum na Justiça Eleitoral. Não há novidade nisto. Lula se valerá dessa situação para manter-se vivo politicamente. Não há outro caminho.
Todavia, como tudo está ainda muito nebuloso, o previsível é que o PT vai registrar a candidatura de Lula da Silva no último momento permitido pelo calendário eleitoral. O resto virá depois e será discutido juridicamente nos tribunais.
O PT quer derramar o munguzá de Ciro Gomes e queimar sua chance eleitoral nas urnas de outubro.
Se não houver recuo do PT, quando a ficha de Ciro Gomes cair, os televisores não poderão ser ligados na presença de crianças. Ele é especialista em palavrões e nisto se parece adequadamente com seu guru Lula da Silva.
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