Parte da esquerda não leva o Brasil a sério

“Nada está mais próximo da ingenuidade do que a malícia levada ao extremo” (San Tiago Dantas)

Francisco Clementino de San Tiago Dantas, jornalista e advogado, considerado em sua época – décadas de 1950 e 1960 – o mais abalizado intelectual da esquerda moderada brasileira, foi deputado federal e ministro das Relações Exteriores do Brasil.

A esquerda do Brasil hoje precisa buscar a lição, ensinamento e ponderação de San Tiago Dantas: “Nada está mais próximo da ingenuidade do que a malícia levada ao extremo”.

Este parece ser o caso do Partido dos Trabalhadores e aliados, ingenuidade mais do PT do que dos aliados: a insistência em manter a candidatura de Lula da Silva no quadro eleitoral de disputa à presidência da República.

Disputar é direito de Lula da Silva, isto não se discute. Contudo, para um ex-presidente da República que apregoa a todo momento a defesa da democracia é, no mínimo contraditório, rebelar-se contra as instituições nacionais, dentre elas o Poder Judiciário.

Sempre entendi que a prisão de Lula da Silva é inoportuna, tendo em vista o dispositivo constitucional que assegura aos condenados de um modo geral – e não somente a Lula – o direito de não ser preso enquanto houver recurso pendente de julgamento. E Lula tem diversos recursos à espera de decisão da Justiça.

Entrementes, o que está acontecendo não é exatamente a discussão jurídica da situação prisional de Lula da Silva, mas o movimento “sem noção” criado pelo PT sob o título “Lula livre”. Explico: a soltura de Lula da Silva não depende de paixões políticas de seus seguidores, mas de obediência ao estado de direito. Isto vale para o Brasil e qualquer país do mundo.

Insurgir-se contra a prisão injusta é direito inalienável do preso, mas para isto existem seus advogados que, no caso de Lula da Silva, são defensores de inegável astúcia e capacitação jurídica.

A Justiça mandou prender, a Justiça que mande soltar, dentro dos trâmites processuais e no momento próprio.

Não estamos em regime de exceção, como diz o PT, tampouco as instituições nacionais passam por estado crítico a ponto de a prisão de Lula da Silva, que se estriba em crime comum, ser entendida como prisão política.

Trata-se de ingenuidade partidária do PT. A sociedade sabe o que Lula da Silva fez e quem o acompanhou nessa conduta reprovável e, por extensão, sabe quais as decisões contrárias à lei e à ética que ele tomou.

Os eleitores também sabem, inclusive os de Lula que, não obstante, continuarão votando em seu nome, se a Justiça Eleitoral permitir, independentemente do que ele tenha feito.

Se a Justiça decidir que Lula da Silva deve participar das eleições de outubro, tudo bem. Mas através do caminho legal e não se subjugando a pressões destrambelhadas de seguidores lulopetistas.

O mínimo que se espera é que o Supremo Tribunal Federal obedeça à lei e aos mandamentos da Constituição da República e não se ajoelhe diante da vontade política de seus ministros.

Mandar prender após condenação em segunda instância é aberração processual e isto é o que o STF está fazendo. Não importa se com relação a Lula da Silva ou milhares de condenados que estão na mesma condição e o PT nunca defendeu.

“Pimenta nos olhos dos outros é refresco”, mas a pimenta ainda não tinha caído nos olhos petistas. Agora o PT ficou sabendo que só em São Paulo há pelo menos quinze mil presos na mesma situação de Lula da Silva. Vai defendê-los?

O PT tem juristas e mestres respeitáveis em seus quadros e sabe que a prisão de Lula da Silva não é política, mas em razão de crime comum. Qualquer estudante de Direito sabe disto. Até leigos sabem disto.

Insistir nesta idiotice é menosprezar a inteligência dos brasileiros e malícia levada ao extremo. Nada mais do que isto.

A julgar pela quantidade de ex-dirigentes petistas condenados pela Justiça, alguns presos,  é difícil acreditar que o partido esteja preocupado com o Brasil.

Como se vê, parte da esquerda não leva o Brasil a sério, mas apenas os seus bolsos,  ávidos por dinheiro público

araujo-costa@uol.com.br

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