“Há de o tempo desvendar o que hoje esconde a discreta hipocrisia” (Shakespeare)
É indiscutível que os partidos políticos são essenciais ao exercício democrático, de modo que não existe democracia plena sem agremiações partidárias.
Todavia, não temos partidos políticos conceitualmente considerados, mas um amontoado de interesses em benefício de dirigentes, asseclas e parasitas do dinheiro público.
Nessas eleições previstas para outubro vindouro, temos clareza de sobra para entender que nossos partidos políticos são apenas incoerentes arcabouços jurídicos desprovidos de ideário, todos indiferentes às necessidades da população e de olho no bilionário fundo partidário.
Exemplo: em pelo menos 15 estados, o PT se aliou a partidos políticos que apoiaram o impeachment de dona Dilma Rousseff. Muitos desses partidos fizeram ou fazem parte da base governista do presidente Michel Temer, que os petistas dizem inimigo.
Em 2016, para o PT, esses partidos e seus integrantes eram “golpistas”, inimigos ferrenhos. Hoje são aliados de primeira hora. Onde está a coerência programática?
No Ceará, por exemplo, o canibal PT ameaça engolir seu senador José Pimentel e o proibir de disputar a reeleição, para estrategicamente permitir a vitória do também senador Eunício Oliveira, do MDB de Michel Temer, que ajudou a derrubar a petista dona Dilma Rousseff do governo.
A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, que coordena essas composições estaduais a mando de Lula da Silva, passou a ser amiga de infância dos políticos que contribuíram para o afastamento de dona Dilma e que o PT os denominava golpistas.
Triplex
Lula da Silva está preso, por enquanto, exatamente em razão do famoso triplex do Guarujá, que ele diz nunca ter sido dele, mas a Justiça assegura que dispõe de robustas provas que dizem que é e são suficientes para condená-lo.
Ironia. Agora o PT inventou uma chapa triplex, para disputar a eleição presidencial de outubro. A chapa é composta de Lula da Silva, do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad e da comunista Manuela D’Avila. É um engendramento informal, nada mais do que isto.
Assim, não é bem chapa, mas uma expectativa de chapa, com o intuito de escarafunchar brechas na legislação eleitoral e viabilizar a eleição de Lula da Silva. É o direito de espernear, o jus sperniandi.
Ainda não se sabe onde o PT vai chegar com essa inovação eleitoral, mas isto não tem nenhuma importância. O partido é mestre em esquisitices.
A elite suprema está com miopia
O Supremo Tribunal Federal propôs incluir na proposta orçamentária de 2019 um reajuste de 16,38% nos vencimentos de seus supremos ministros, o que elevaria a despesa do Tribunal em R$ 2,77 milhões por ano e causaria um impacto sobre todo o Poder Judiciário da ordem de R$ 717,1 milhões anuais, segundo estimativa preliminar dos técnicos.
O impacto se dará também sobre Executivo e Legislativo. Em consequência, todos terão direito a aumento de vencimentos, o chamado efeito cascata, porque o teto do Judiciário servirá como parâmetro para os demais funcionários públicos das outras esferas de poder.
Parece que o Supremo Tribunal Federal está míope e não enxerga as dificuldades econômicas e sociais pelas quais passa o Brasil, tampouco os quatorze milhões de desempregados.
O STF é uma elite que está precisando de cuidados. E esses cuidados dependem da vigilância da sociedade.
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