“O caráter, como os rochedos, pode ter fendas” (Victor Hugo, Os miseráveis)
O debate entre os presidenciáveis na TV Bandeirantes tinha tudo para nortear-se no caminho do alto nível, até o momento em que Guilherme Boulos resolveu insultar o deputado Jair Bolsonaro, tentando puxar o nível para baixo, sem sucesso.
Bolsonaro é capitão da reserva do Exército, da arma de artilharia e frequentou a respeitada Academia Militar das Agulhas Negras. Especializou-se em paraquedismo e, como se vê, tem bagagem suficiente para nocautear o incentivador de invasão de propriedades, que é a única coisa que Boulos sabe fazer.
Ficou clara a disposição dos demais candidatos no sentido de serem elegantes, educados, civilizados, respeitosos. Demonstraram que queriam discutir os problemas nacionais e não assuntos pessoais dos adversários.
Até Ciro Gomes optou por deixar a faísca de lado e não acender seu pavio curto e se portou educadamente, que é o mínimo que se espera de um postulante a presidente da República.
Todavia, Guilherme Boulos estava preocupado em falar da “mulher que cuida dos cachorros” do Bolsonaro e da vida pessoal do adversário e não de assuntos sérios. Inventou acusações contra o candidato Bolsonaro, que a história não registra, demonstrando total desconhecimento do período da ditadura militar, quando ambos os lados – esquerda e direita – cometeram crimes e outras atrocidades reprováveis que mancharam o Brasil.
Boulos tem obrigação de conhecer a história. É graduado em Filosofia e ativista político, além de incentivador de invasão de propriedades.
Razoável é entender que um debate entre presidenciáveis, nesta quadra do tempo, não comporta mais piegas de quem matou quem no período do regime militar. O Brasil é outro, a sociedade exige mudanças e não um constante olhar no retrovisor da história.
Realmente, Boulos destoou dos demais candidatos. Mas não se pode esperar outra coisa dele. Um sujeito que incentiva e comanda invasões de propriedades particulares, sem nenhum respeito ao direito de quem as adquiriu, não pode primar pela decência. Mas é uma questão de caráter e cabe a ele moldá-lo, se quiser. É problema dele, unicamente. Pode melhorar.
Entretanto, vale registrar que a parte da esquerda que apóia Guilherme Boulos tem nomes mais gabaritados, em seus quadros, para representá-la na disputa pelo comando da República.
Há bons quadros, inclusive no partido político que lhe deu guarida para sustentar a candidatura.
A questão de nossos partidos políticos e lideranças nacionais é misturar democracia com esculhambação. E mesmo em momentos mais graves, como este que o Brasil atravessa, indicam qualquer zé ruela para disputar o honroso cargo de presidente da República.
Em nosso sistema presidencialista, o eleito passa a ser chefe de governo e chefe do Estado brasileiro. Não pode ser qualquer um.
araujo-costa@uol.com.br