O jornalista Sebastião Nery conta que Armando Falcão, que foi ministro da Justiça dos presidentes Juscelino Kubitscheck e Ernesto Geisel, candidatou-se ao governo do Ceará em 1954.
Em campanha, encarregou um deputado amigo para organizar grande comício, o que foi feito. O político providenciou palanque, som, iluminação, bandeiras e tudo mais.
Armando chegou e a praça estava vazia. Perguntou: Cadê o povo, deputado?
O amigo usou a sinceridade:
– Armando, se eu tivesse capacidade de trazer o povo para o comício, o candidato não seria você, seria eu.
Quando Lula da Silva estava prestes a ser preso, a bravateira senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, ameaçou colocar o povo na rua e até, irresponsavelmente, usou a expressão “matar gente”, se houvesse a prisão.
Lula foi preso e a população ficou silente, exceto parte desidratada da militância petista, por uma razão muito simples: no Brasil, com quatorze milhões de desempregados, ninguém acredita mais em bravatas de políticos sabidamente embusteiros e, mais, a população tem consciência dos erros de Lula da Silva, independentemente do que dizem os dirigentes petistas e seguidores.
Em visita a Lula no cárcere, sabe-se que o ex-presidente cobrou a promessa da senadora e teria perguntado pelo povo que a senadora disse que ia colocar na rua. Não se sabe a resposta. Nem tem nenhuma importância saber. O que ela fala não tem importância.
Entretanto, sabe-se que no dia de registro da candidatura de Lula no Tribunal Superior Eleitoral, o PT prometeu levar uma multidão para as ruas de Brasília. Bazófia. Foram apenas militantes dos movimentos sociais, com roupas e bandeiras vermelhas, arrebanhados pelos MST e outras organizações que apoiam o partido, aproximados dez mil, segundo cálculo das autoridades.
Há uma diferença basilar neste contexto. Lula da Silva não é nenhuma divindade, mas assemelha-se a um líder messiânico. Tem seguidores arraigados, independentemente de sua situação jurídica, preso ou solto. Quem é lulista não é necessariamente petista. Há admiradores de Lula que não gostam dos métodos do PT.
Petista é uma situação, lulista é outra, completamente diferente. Quem é lulista o é, em qualquer circunstância, incondicionalmente.
Gleisi Hoffmann ainda não entendeu isto. Não vai entender, não tem condições de entender. Sua fanfarronice a impede de raciocinar decentemente.
À semelhança do deputado cearense, a presidente nacional do PT não tem nenhuma capacidade de colocar multidões nas ruas. Se, eventualmente, pessoas forem às ruas, o farão por causa de Lula e não a pedido de Gleisi Hoffmann.
Primeiro, o povo precisa comer, pagar aluguel, cuidar da família.
Ninguém faz política de barriga vazia.
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