Desvanecido recebo manifestação de Antonio Edmar de Araújo (Tuna), baiano de Curaçá, que mora em Itabuna, sobre a crônica Curaçá, pedaços de saudade*, publicada neste espaço em 11/08/2017.
Edmar é filho ilustre de D. Nenzinha, ícone da cultura curaçaense o que, por si só, lhe engrandece diante de seus conterrâneos aos quais me incluo.
Reproduzo abaixo a crônica em referência, com o intuito primeiro de evidenciar a memória das pessoas citadas e em deferência à insigne presença dos que ainda vivem. Também para fazer algumas correções necessárias, em respeito àqueles que perdem tempo em ler meus textos.
O respeito aos leitores pressupõe a publicação de textos escorreitos, inclusive no que tange à linguagem e técnicas de escrita. Confesso, não tenho conseguido. Por isto, penitencio-me diante de todos. Eis a crônica:
Curaçá, pedaços de saudade.
Primeira metade da década de 1970. Antes de morar na pensão de Maria de Fortunato (Maria de Lourdes Lopes), eu morava no Curaçá Hotel, um casarão de grandes janelas na esquina da Rua Coronel Pombinho, que traduz o estilo das primeiras construções da cidade sanfranciscana.
Os proprietários Maria Roselita Xavier e Adelson Xavier tocavam o empreendimento com dedicação. Mais parecia uma confraria entre amigos do que, propriamente, um hotel. Os hóspedes se tornavam amigos entre si, afáveis e confiáveis.
Nos fundos do casarão existia um boteco de frente para a lateral do Teatro Raul Coelho. Era lá que Adelson, Edvaldo Araujo e eu nos encontrávamos para o conhaque de alcatrão.
Adelson tinha pressão alta. Uma vez ele parou a ponte presidente Dutra, que liga Juazeiro a Petrolina. Passou mal no meio da ponte e o trânsito virou um caos. Amigo de verdade, Adelson deixou, além da saudade, algumas histórias engraçadas, que ele contava com humor e irreverência.
Edvaldo Araujo, amigo e colega de trabalho na Prefeitura Municipal, homem de caráter irrepreensível e exemplo de vida, era casado com Maria de Almeida Araujo (D.Nenzinha), a pessoa mais amável que conheci nessas décadas de vida atribulada.
À época, D. Nenzinha exercia o cargo de delegada escolar de Curaçá, função muito respeitável nos quadros da Secretaria de Educação da Bahia. Hoje, não sei se ainda existe essa função. Se existir diminuiu de importância, em proporção à deterioração do ensino, que se dá não por culpa dos abnegados professores, mas em razão de negligência do Estado.
Se não me falha a memória – e ela sempre falha – D. Nenzinha consta no livro-reportagem “Herdeiras de Feliciana: Perfis de Mulheres de Curaçá”, de autoria da jornalista e professora de História Alinne Suanne Araújo da Silva Torres, que ainda não tive a oportunidade de ler, o que é uma pena.
Nenzinha era uma conselheira diuturna dos jovens. Sentia-se bem, orientando-os. Faleceu em 24/04/2013, salvo engano, beirando os 97 anos. Tenho saudade de nossas conversas na calçada em frente de sua residência. Ao fundo, as águas tranquilas e misteriosas do Rio São Francisco.
Naquele encontrar de ruas, Astério Xavier cuidava da agência dos Correios e Juvêncio Oliveira, “seo” Maroto, se ocupava de sua venda de secos e molhados. E nesse cruzar de ruas e esquinas, surgiam os bate-papos sobre amenidades. Eram conversas despretensiosas, convidativas, interessantes.
Como falo de saudade, deixo aqui um registro: nesse tempo, Adelson Xavier Júnior era criança. Cresceu bondosamente e há pouco se retirou de nosso convívio como uma abelha que se vai subindo em direção às alturas.
araujo-costa@uol.com.br
*Hoje volto a publicar a crônica em referência, com o intuito de acrescentar duas fotografias do arquivo da família de D. Nenzinha, que me foram gentilmente enviadas por Antonio Edmar de Araújo. Vale o registro, vale a saudade.