Com a abertura das urnas do segundo turno das eleições de 2014, desenhou-se no Brasil um quadro eleitoral curioso no que tange à geopolítica brasileira.
Entretanto, nada de novo, nada surpreendente, apenas o mapa da vontade popular.
A reeleição da presidente Dilma Rousseff foi assegurada, basicamente, pelos estados da região Nordeste. Lá dona Dilma ganhou folgadamente, em grande estilo.
Isto foi suficiente para que parte da imprensa e as redes sociais lançassem pedras sobre os nordestinos, que precisam mesmo é de sossego para enfrentar os problemas diários, que são muitos.
Na ocasião, criou-se um clima “nós contra eles” e vice-versa, idealizado por Lula da Silva, com o intuito de fomentar um quê de desavença entre os brasileiros que, graças a Deus, não vingou. Nem vingará.
Com a aproximação das eleições de 2018, o mesmo lengalenga parece que já começa a se repetir, tão-logo foram publicadas as primeiras pesquisas de opinião nos estados do Nordeste.
Nordestino e baiano que sou, quero meter o bedelho nessa conversa insossa, excessivamente idiota, desconexa, inoportuna, preconceituosa, abominável.
O pessoal que fala mal dos nordestinos gosta mesmo é de lorota, balela. Ora, o voto é a expressão maior da democracia, que todos dizem querer.
A população nordestina tem o direito de votar em quem bem entender, seja em candidatos da esquerda ou da direita, PT, PSDB, DEM, PSB ou quaisquer outras dessas excrescências partidárias que estão por aí. Eleição não é mesmo para escolher?
Oportuno lembrar que na região Nordeste, ainda prevalece, com muita clareza, a figura do político sobre a ideologia partidária. O eleitor vota no candidato, independentemente do partido político que o abriga.
Contudo, os nordestinos são duros na queda. Estamos acostumados com seca, sofrimento, fome, miséria, abandono do poder público, críticas de sociólogos e cientistas políticos e abismos de toda ordem. E continuamos firmes, fortes, decididos e, sempre, dando o que falar. Somos mesmo importantes. E daí?
E mais: não obstante as constantes safras de políticos ruins, eles ainda não conseguiram destruir o Nordeste. Bem que tentaram.
Os nordestinos não estão interessados em conversa fiada. Têm o direito de decidir sobre o seu destino. Se a escolha não for bem feita, isto não invalida o direito de escolher. Escolher errado também faz parte do exercício democrático.
Apesar de insinuações descabidas, em 2014 o senhor Aécio Neves perdeu a eleição não por culpa dos nordestinos. Perdeu porque dona Dilma teve mais votos. Só isto. A democracia é assim, a maioria vence e a minoria baixa a crista.
Havemos de nos submeter às regras. E as regras dizem que a disputa dá-se nas ruas e nas urnas quem tiver mais votos vence. É lógico, razoável, incontrastável, inquestionável.
Essa conversa cabeluda de que a eleição de 2014 dividiu o Brasil entre Nordeste e estados do Sul e Sudeste e que o fato tende a se repetir em 2018, tem tanta importância quanto a falta de importância. É de somenos, coisa de gente que não está acostumada com as surpresas das disputas eleitorais.
Nós nordestinos conhecemos muito bem isto. Desde sempre convivemos com campanhas eleitorais. Temos experiência até para dizer que o candidato que tiver maioria nas urnas de outubro em nada vai resolver a situação do Nordeste. Nem do Brasil. Mas fará o seu papel de demagogo, como todos fazem em épocas eleitorais. Dirá estrategicamente o que o povo quer ouvir.
Há muita gente do Sul e Sudeste em polvorosa, criticando os nordestinos. Isto nos dá uma malemolência danada. É conversa para nordestino cochilar.
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