“Dinheiro é como azeite: por onde passa, amolece” (José Cavalcanti, Patos-PB)
Tenho cá minhas ingenuidades, que são muitas, mas elas não chegam ao ponto de me fazerem acreditar que os políticos de antigamente eram mais sérios, honestos e incorruptíveis e somente os de hoje são embusteiros, corruptos, alguns até “amigos do alheio”, o dinheiro público.
As estátuas que vemos em praças públicas nem sempre são de homens de caráter irrepreensível ou de heróis. Muitas refletem a ruína moral dos homenageados que deixaram a fama de impolutos.
Ocorre que a sociedade de décadas atrás não tinha meios de expor as fragilidades dos seus governantes, tampouco existiam órgãos de controle independentes e eficientes, jornalismo investigativo, imprensa livre e outras formas modernas de alcançar os larápios. E eles reinavam absolutos, como se honestos fossem.
A dificuldade em apontar falcatruas dos governantes residia, inclusive, no medo de perseguição política e no receio que as pessoas tinham de perder cargos, benesses, favores, amizades, apadrinhamentos.
Juízes, delegados e promotores, para ficar nesses exemplos, comumente eram indicados e nomeados pelos poderosos, dentre amigos, amigos dos amigos, parentes, aderentes, eleitores fiéis, et cetera.
Esses agentes públicos, depois de encastelados em suas funções, passavam a atuar no interesse dos chefes políticos aos quais deviam o glamour, a construção da reputação e o cargo vitalício com suas inúmeras vantagens.
Mais: este sistema estrambótico gerou as oligarquias e as elites que se enraizaram e perduram até hoje em todos os estados e se acham intocáveis, insubstituíveis, indiferentes ao clamor público.
Os concursos públicos consistiam apenas em formalidades para cumprimento dos requisitos de provas e títulos, mas o que contava, de fato, era a vontade de quem ostentava o poder e tinha a caneta na mão.
Houve tempo em que um poderoso governador de estado – Deus o tenha na mansão dos mortos ou dos infames – ditava as normas ao seu talante, coadjuvado pela subserviência dos coestaduanos.
Há décadas, dizia-se que em concurso para juiz de direito, tal governador elencou os nomes dos candidatos que deviam ser aprovados e as comarcas para as quais seriam nomeados, exatamente aquelas comarcas dominadas por políticos locais que o apoiavam e se sentiam incomodados com os juízes que lá atuavam, que depois seriam substituídos e transferidos para regiões distantes e inóspitas.
Não é difícil presumir que a comissão do concurso e as autoridades responsáveis pelas nomeações seguiram à risca a determinação do governador.
Corrupção no Brasil “tanto faz ver como saber que tem”. Sempre teve, sempre terá, embora não exista placa indicando onde ela está.
Muitos negam que a corrupção existe. Curiosamente, a negativa vem das autoridades que, de forma hipócrita, fingem não saber e deveriam erigir o bom exemplo. É mais cômodo fingir que não tem do que dizer que tem.
Em 2018, assim como em anos anteriores, muitos candidatos que disputam cargos no Legislativo e Executivo frequentam as páginas policiais com regularidade e não mais o colunismo social, como era praxe em tempos idos.
O que assusta não é a frequência com que aparecem no noticiário policial, mas a cara de paisagem que fazem, como se nada tivesse acontecido ou acontecendo.
É o dinheiro passando e amolecendo.
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