Nordeste: Ciro Gomes, Haddad e votos de Lula da Silva

O ex-governador cearense Ciro Gomes vem crescendo nas pesquisas de intenção de voto, o que já era esperado.

O destempero verbal de Ciro também vem crescendo, o que não é nenhuma novidade. Quem o conhece sabe que ele é assim mesmo, mas o diabo é que nem todos o conhecem e isto acaba afastando os eleitores de seu caminho na disputa presidencial.

Inobstante a derrocada de nossos costumes morais e políticos e o surgimento do politicamente correto, a sociedade brasileira ainda é marcadamente conservadora.

Em entrevista recente a um jornal do Rio de Janeiro, Ciro Gomes chamou milhões de eleitores, assim como militares apoiadores de Jair Bolsonaro de “cadelas no cio” e classificou de “jumento de carga” o general da reserva do Exército e candidato a vice-presidente de Bolsonaro.

A primeira frase é do dramaturgo alemão Bertholt Brecht (1898-1956): “A cadela do fascismo está sempre no cio”. Ciro Gomes não citou o autor da frase o que, pelo menos, seria uma forma de amenizar a infelicidade da arrogância diante dos atingidos.

Com a expressão “jumento de carga”, talvez Ciro quisesse dizer “pau pra toda obra”, mas não se expressou bem. Ficou mal para o candidato que quer atingir espaço eleitoral.

Ciro Gomes é um sujeito culto, mas não precisa valer-se de sua cultura para ofender as pessoas, mormente em campanha. Vai perder eleitores, embora ascendente nas pesquisas.

Com a definição de Fernando Haddad, ventríloquo de Lula da Silva, Ciro vai disputar votos lulistas nos estados do Nordeste, que têm maioria sabidamente favorável ao ex-presidente petista.

Já escrevi sobre Fernando Haddad. É um sujeito decente, educado, culto, inteligente, ético e, sobretudo, disciplinado. Ainda não lhe grudou a pecha de demagogo, como os demais candidatos que estão por aí, mas errou ao se submeter à condição de marionete de Lula da Silva e se transformar num candidato sem identidade própria. Parte do PT não o queria como cabeça de chapa.

Ganhando ou não a eleição, Haddad vai entrar para a história política como uma pessoa facilmente dominável. Isto já está manchando sua impecável biografia.

Ciro Gomes é nordestino típico, embora paulista de nascimento, tem afinidade com o linguajar do povo, conhece bem demagogia e, sobretudo, sabe dizer o que o eleitor quer ouvir. É experiente politicamente e entende de administração e economia. Pavio curto, tirante os palavrões que gosta de dizer, tem seguras chances de abocanhar grande parte do eleitorado lulista. Se tiver maioria na região Nordeste, a vitória ficará com ele.

O eleitor de Lula não significa necessariamente eleitor do PT. O eleitor de Lula é fiel, decidido, imutável. Quem vota em Lula não quer dizer que vota noutros candidatos do PT.

Lula é carismático, messiânico, tem luz própria, apesar da escuridão que vem atravessando. Haddad é pau-mandado. A diferença entre ambos é abismal.  O eleitor de Lula sabe disto.

De qualquer forma, a bagagem de Ciro Gomes o ajudará, sem dúvida: exerceu cargos no Executivo e no Legislativo, em todas as esferas de governo, além de dominar, com desenvoltura, os assuntos do Brasil. É articulado e tem poder de convencimento.

Mas é tempo de tirar as crianças da sala nos momentos em que Ciro Gomes fala na televisão. Ele pode servir de mau exemplo. Não é bom.

araujo-costa@uol.com.br

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