Na Bahia, Jaques Wagner está tranquilo

“Se você achar um jabuti no galho de uma árvore, procure saber quem o colocou lá, porque jabuti não sobe em árvore” (Vitorino Freire, político maranhense)

Algumas vezes fiz críticas à administração de Jaques Wagner (2007-2015) frente ao governo da Bahia.

As críticas – sempre muito claras – eram estritamente relacionadas ao governo e tão-somente ao governo. Nunca relativamente à figura pública e pessoal do então governador, que entendo se tratar de um senhor correto, inteligente e, mais do que isto, politicamente esperto.

Referia-me às estradas abandonadas, ao descaso com a segurança pública e ao desleixo com os professores da rede estadual, além de outros problemas que a população enfrentou em sua gestão.

Entendo Jaques Wagner como sendo o único sujeito sensato do Partido dos Trabalhadores (PT), dentre aqueles que se destacaram no partido. Parece que ele não fazia parte do pensamento daquela corriola de dirigentes petistas que foram presos ou ainda estão aguardando provável condenação do Judiciário.

Até escrevi, neste mesmo espaço, que o nome ideal do PT para disputar a presidência da República em 2018 seria ele e não Lula da Silva, principalmente tendo em vista que o ex-presidente petista encontrava-se moralmente desgastado, decaído, cabisbaixo e, por último, condenado e preso.

Lula da Silva foi tragado pela lei da ficha limpa que lhe tirou a chance de disputar a eleição presidencial, não propriamente por estar preso, mas porque a sentença condenatória de primeiro grau foi confirmada em segunda instância.

Jaques Wagner preferiu a senatoria, porquanto certa e deixou o quiproquó vexatório da candidatura presidencial para o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, que passou a ser ventríloquo e marionete de Lula da Silva.

Entretanto, o tempo fez alguns ruídos na vida de Jaques Wagner.

Já em 2011, noticiou-se um fato nebuloso, não totalmente esclarecido: ele disse que vendeu um apartamento que tinha no bairro da Federação, que valia cento e cinquenta mil reais, por novecentos mil reais e comprou outro, no luxuoso Corredor da Vitória, uma das áreas mais nobres e caras de Salvador, com direito a vista para a Bahia de Todos os Santos.

Um apartamento por lá custa em média míseros quatro milhões de reais. Mas o homem era governador na época, cheio de poder até as ventas, explicou tudo, fez matematicamente as contas e deu como certo que seu salário mensal de doze mil reais que o Estado da Bahia lhe pagava foi suficiente para adquirir tão rica e glamourosa residência.

Até aí, tudo bem, o homem sabe poupar, o que certamente vem fazendo desde os tempos do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Petroquímica, em Camaçari.

O diabo é que tinha um amigo do governador no meio do caminho. Esse amigo comprou dele o apartamento da Federação e, logo em seguida, foi indicado pelo Palácio de Ondina para diretor da Companhia Docas do Estado da Bahia (Codeba) e coisa e tal.

A lisura do negócio não está aqui sendo questionada, tampouco a honradez de Jaques Wagner, mas essa conversa de comadre, essa ação entre amigos, convenhamos não ficou bem politicamente para o ex-governador.

O apartamento da Federação valia cento e cinquenta mil reais, segundo o ex-governador, mas o amigo pagou novecentos mil reais e não se fala mais nisto. Amigo é amigo e ninguém tem nada com isto.

Sendo petista – e alguns petistas têm histórico de fazer estripulias – o caso inevitavelmente fez parte do noticiário, até porque o partido passava por uma saraivada de denúncias.

Novidade é supor que ele tenha praticado negócios escusos, até aqui um senhor impoluto, acima de qualquer suspeita.

Jaques Wagner tem cabedal político e pujança doutrinária. É inteligente o suficiente para não dizer o que, pateticamente, Haddad disse em recente entrevista: dirigentes petistas afanaram dinheiro público, mas a culpa não é deles, mas dos adversários do PSDB. Isto não convenceu nem os petistas, embora, todos saibam que no PSDB também tem larápios.

Fernando Haddad é advogado. Ele deve estar arrependido pelo hilário episódio. É como se ele quisesse dizer: o ladrão roubou, mas é a vítima que deve ser presa.

Mas onde tem assunto eleitoral tem dinheiro. Em 2010, por exemplo, Jaques Wagner doou para a então candidata e hoje senadora Lídice da Mata a quantia de R$ 1 milhão de reais, o que, convenhamos, não é pouco. O dinheiro – parece – proveio do comitê eleitoral de Jaques Wagner, mas consta como doação dele, talvez uma formalidade, um detalhe.

Recentemente a Polícia Federal empurrou Jaques Wagner para os escombros da Arena Fonte Nova. Parece que por lá, no tempo de dona Dilma, dinheiro andou caindo do céu diretamente nas mãos de alguns espertos.

Não se sabe onde a Polícia Federal vai chegar, mas isto não vai influir nas urnas de outubro próximo e nem atrapalhar a vitória de Jaques Wagner ao Senado da República.

Depois ele explica aos baianos quem colocou o jabuti na árvore.

araujo-costa@uol.com.br

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