Há inúmeros precedentes de presidiários que concederam entrevistas à imprensa, mormente à televisão, em programas de apresentadores e repórteres sensacionalistas, com claro intuito de angariar audiência e não, propriamente, de prestar informação à sociedade.
Para ficar em alguns exemplos, cito os questionáveis Roberto Cabrini e Gugu Liberato, mestres do sensacionalismo televisivo.
Se outros presos podem, Lula da Silva também pode. A lei é igual para todos ou, pelo menos, deveria ser. Cabe à administração do presídio, em primeiro lugar, permitir ou não a entrevista, desde que não arranhe os ditames da Lei de Execuções Penais e regulamentos internos.
Agora, o Supremo Tribunal Federal envolveu-se num considerável quiproquó, porque a Folha de S. Paulo pediu autorização para entrevistar Lula da Silva na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.
Em princípio autorizada, a possível entrevista foi contestada e deslizou-se até chegar à mesa do amigo e habitué da cozinha de Lula da Silva, ministro Enrique Ricardo Lewandowisk, que autorizou a entrevista. Creio que com razão. O homem entende de direito, sim. É uma sumidade. Foi meu professor.
Entretanto, o vice-presidente do STF, ministro Luiz Fux revogou a decisão de Lewandowisk, que não gostou, obviamente. Ambos não podem se encontrar nos corredores do Supremo Tribunal Federal.
O caso caiu no colo do neófito presidente do STF, ministro Dias Toffolli, que o remeteu para o plenário do Tribunal, a instância certa para dirimir casos assim, envolvendo conflitos de interpretação entre ministros da Corte Suprema.
O plenário do Supremo Tribunal Federal certamente vai autorizar a entrevista de Lula, não somente à Folha de S. Paulo, mas a quaisquer órgãos de imprensa que eventualmente tenham interesse.
A liberdade de expressão do pensamento é direito de Lula da Silva e de todos os brasileiros abrigados sob o manto constitucional.
Entretanto, a questão chegou a esse ponto pelo seguinte: a entrevista foi pedida por uma jornalista sabidamente petista de carteirinha e, mais do que isto, solicitada às vésperas das eleições de sete de outubro próximo.
A conceituada jornalista teve tempo de sobra para pedir a entrevista com Lula. Ele está encarcerado desde abril. Propositadamente, deixou o pedido para as vésperas das eleições, para dar “Ibope”, melhor “Datafolha” .
Não precisa ser inteligente para pressupor que a entrevista de Lula não obedecerá a nenhum estilo jornalístico. Será um palanque para seu manjado discurso político, com o intuito de pedir votos para o PT, aliados e seus candidatos, mormente para Haddad.
Mas, se outros presos podem dar entrevista, Lula da Silva também pode. É inquestionável. Ou então, não se permita entrevista com nenhum preso.
A jornalista combinou a entrevista com a eficiente e estratégica assessoria de Lula da Silva, mas esqueceu de “combinar com os russos”, ou seja, com o Poder Judiciário que, ainda, apesar de tudo, é o poder mais sensato da República.
A entrevista foi pedida corretamente. O momento é que está errado. Podia ter sido antes. Pode ser depois das eleições.
Lula faria e fará campanha do mesmo jeito. É seu direito, é seu estilo.
Aliás, por mais que a Polícia Federal e a Justiça silenciem, a cela-suíte de Lula da Silva em Curitiba é um sofisticado comitê eleitoral. Se permitem, ele pode usar.
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