A República, o cárcere e os presidentes

O tempo vem humilhando nossa combalida República e sucateando a conduta de políticos que detêm ou detiveram o poder.

Já escrevi, neste espaço, que a cadeira presidencial em que se sentou Jânio Quadros não podia ter acolhido as “nádegas indevidas” de Lula da Silva e dona Dilma Rousseff, ressalvada a vontade soberana e inquestionável do povo, que os escolheu.

O próprio Jânio a desinfetaria – se vivo fosse – como fez em 1985, ao desinfetar a cadeira do gabinete da Prefeitura de São Paulo, na qual equivocada e apressadamente se sentou Fernando Henrique Cardoso, que concorreu com Jânio, sentiu-se vitorioso a ponto de tirar foto na cadeira do prefeito, mas perdeu. Acreditou demais em pesquisas de opinião e passou o vexame histórico.

“Desinfeto porque nádegas indevidas se sentaram nela”, disse Jânio Quadros.

Contudo, a democracia ainda é o melhor de todos os regimes políticos, porque fruto da soberania popular. Escolher errado não exclui e nem macula o direito de escolher.

Há uma disparidade entre o caráter inflexível de Jânio, o respeito que ele tinha com a coisa pública e a postura de estadista comparados com a conduta e forma de governar de Lula e de dona Dilma.

O ex-ministro Palocci, que foi ministro e pessoa de extrema confiança de ambos, apresentou uma enxurrada de acusações e, segundo ele, de provas, contra Lula e dona Dilma, envolvendo o uso indevido de dinheiro público. Entristece-nos a todos.

Hoje, acrescento a esta lista de desajustados presidentes, o senhor Michel Temer, que se mostrou uma decepção e inegável vergonha no comando da República.

No curto período de seu governo, ainda em curso, Temer se preocupou mais em se defender de pesadas acusações do que da administração pública, até por falta de tempo e tranquilidade para, simultaneamente, cuidar de sua defesa e da administração.

Se os ventos não soprarem em rumo diverso, pelo andar da carruagem teremos três ex-presidentes presos ou, no mínimo, com prováveis chances de serem condenados: Lula da Silva, que já amarga o cárcere, Dilma Rousseff e Michel Temer, coisa nunca vista na história do Brasil.

Salvo engano ou tecnicismo das leis penais, os crimes pelos quais Michel Temer está sendo acusado – corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa – são os mesmos atribuídos a Lula da Silva, o que faz pressupor que existia uma identidade de propósito político entre ambos, mais por conta da estrutura partidária (PT e MDB) que comandavam, estrutura esta que mandava no governo.

Lula da Silva empurrou Michel Temer goela abaixo de Dilma Rousseff, que não o queria, para compor a chapa na condição de vice-presidente no primeiro mandato dela e o manteve, estranhamente, no segundo mandado.

Hoje os petistas e aliados chamam Michel Temer de golpista, mas omitem que ele foi posto lá estrategicamente por Lula da Silva.

“Neste angu tem caroço”, diriam os desconfiados. Algumas das práticas delituosas atribuídas a Michel Temer se irmanam com as práticas das quais Lula é acusado: o uso de decretos e medidas provisórias para beneficiar empresas em troca de propinas, dentre outras parecidas. O caminho para o delito parece igual. Coincidência? Pode ser.

Lula e Michel Temer dizem que são inocentes. Como diria o humorista, “esta nem brasileiro acredita”.

Todavia, isto nos remete para conjecturas: ou Lula da Silva ensinou a maracutaia a Michel Temer ou Michel Temer ensinou a maracutaia a Lula, mas parece que um aprendeu com o outro.

É verdade que tudo isto será apurado, o que não significa que restará provado. Ninguém pode ser condenado por antecipação ou com base em notícias veiculadas na imprensa. O que vale é a palavra final do Poder Judiciário, considerados todos os recursos processualmente cabíveis. Mas está cheirando mal.

Neste tempo de safadeza, altas figuras da República passam a ter estreito e possível relacionamento com o cárcere, o que é uma tristeza para todos os brasileiros.

araujo-costa@uol.com.br

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