“A cultura forma sábios; a educação, homens” (Louis de Bonald, filósofo francês, 1754-1840)
Mauá, para quem não sabe – e ninguém tem obrigação de saber – é um dos sete municípios que formam a próspera região do ABC paulista. Não custa nada citá-los: Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Mauá, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
Tenho grande predileção por Mauá. Vindo do Nordeste, foi o primeiro lugar que me acolheu na segunda metade da década de 1970.
Lá arranjei o primeiro, sonhado e necessário emprego em São Paulo e encontrei os primeiros amigos que me suportaram, alguns deles me ajudaram em meus momentos de dificuldades. Fase difícil, mas guardo gratas lembranças da luta, das amizades, do tempo.
Agora, a imprensa noticiou (Diário do Grande ABC, 19/10/2018) que a Prefeitura de Mauá está fechando bibliotecas da cidade sob a alegação de falta de dinheiro para mantê-las.
Já fechou a biblioteca Dias Gomes e está fechando a Cecília Meireles.
Salvo engano e se não interpretei equivocadamente a notícia, a Prefeitura vai manter, por enquanto, apenas duas bibliotecas em bairros afastados: Sonia Maria e Jardim Zaíra. Ou seja, no centro, não haverá mais biblioteca, o que dificulta sobremaneira estudantes, professores, pesquisadores, pessoas da terceira idade que as frequentam, leitores em geral, et cetera.
O prefeito de Mauá, que não conheço, esteve recentemente envolvido em acusações no que tange ao uso indevido de dinheiro público, o que custa acreditar que Sua Excelência tenha surrupiado recursos do povo em benefício próprio e deixado as bibliotecas desamparadas.
Em data recente, o prefeito esteve afastado do cargo, por decisão judicial e, em consequência, a vice prefeita, senhora de família política tradicional de Mauá, assumiu as funções, em caráter provisório.
Contudo, o prefeito reassumiu as funções, também por ordem judicial e está cuidando do município ou, pelo menos, deveria cuidar. É razoável pressupor que a população de Mauá espera isto de seu alcaide.
Mas – parece – tem alguma coisa em Mauá que não está no lugar certo: a gestão acusa a vice, que substituiu o prefeito por pouquíssimo tempo, de ser a responsável pelo descalabro, a ponto de não ter dinheiro para manter as bibliotecas públicas.
Mais: a Prefeitura informou que não tem disponibilidade financeira para pagar o aluguel do imóvel ocupado pela biblioteca central Cecília Meireles, algo da ordem de R$ 7.500,00 por mês. Então, a situação financeira do município de Mauá está mesmo periclitante.
Convenhamos, tem alguma coisa errada em Mauá.
Uma administração municipal que, nos primeiros sinais de crise, fecha suas bibliotecas e espezinha sua cultura, realmente não pode ser levada a sério.
Gestores públicos que pensam assim devem pegar o boné e voltar para suas casas.
São Bernardo do Campo, primavera de 2018.