O PT insiste em confundir o eleitor.

“Nada está mais próximo da ingenuidade do que a malícia levada ao extremo” (San Tiago Dantas)

A Folha de S.Paulo vai usar o direito constitucional de preservação do sigilo da fonte para omitir o possível dedo do Partido dos Trabalhadores (PT) na veiculação da matéria sobre envio de mensagens contra Haddad, através do aplicativo WhatsApp, prática  atribuída pela reportagem ao candidato Jair Bolsonaro.

As empresas citadas na reportagem já negaram que tenham sido contratadas pelo candidato do PSL ou qualquer pessoa de sua campanha, de modo que, em princípio, a acusação do PT, com base na matéria jornalística, não encontra amparo fático e legal.

Repórter respeitável, a jornalista Patrícia Campos Mello é experiente e, pelo que se conhece, muito correta profissionalmente. Cumpriu seu papel de repórter, certamente obedecendo, como de praxe, a pauta do jornal em que trabalha.

Entretanto, as redes sociais estão misturando alhos com bugalhos e passaram a insultar a jornalista, em razão da reportagem, o que vai contra o pluralismo democrático.

Sabe-se que a jornalista se declara petista desde sempre, não nega sua condição de integrante da esquerda, mas isto é direito dela e não significa, necessariamente, que seja parcial e tendenciosa, tampouco labore em má-fé, no exercício da profissão.

Todo profissional, seja jornalista ou outro qualquer, tem direito a ostentar suas convicções políticas. Isto não quer dizer que, em quadro assim,  essa condição macule o exercício de sua profissão ou arranhe o caráter de jornalista.

Pensar de modo diverso é desrespeitar a liberdade de pensamento, de escolha e de expressão de cada um de nós. Seria uma barbaridade, uma afronta à liberdade individual.

Todavia, o que fica difícil entender é o fato de a jornalista ter consultado o advogado da presidente nacional do PT Gleisi Hoffmann sobre eventuais consequências das mensagens disparadas via WhatsApp sobre a candidatura de Jair Bolsonaro, vez que dispõe de um corpo jurídico respeitável na própria Folha de S.Paulo, que está lá exatamente para dar sustentação ao jornal. O advogado consultado mora no Paraná.

O advogado que a jornalista generosamente classificou de “jurista” já foi preso por envolvimento nos escândalos financeiros do PT e está sob as malhas da lei, acusado de ter embolsado ilicitamente R$ 7 milhões entre 2010/2015, em conluio com o marido da senadora Gleisi Hoffman.

Convém ressalvar que investigação, indiciamento e prisão cautelar não significam provas irrefutáveis de culpa.

O marido da senadora fora ministro das Comunicações e do Planejamento dos governos petistas de Lula e dona Dilma e se envolveu com desvio de dinheiro público, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público. À época, o retro aludido causídico já exercia o papel de defensor de Gleisi Hofmann.

Estranha aí é esta mistura de fatos ou a coincidência entre eles. Todavia, isto não quer dizer que a jornalista tenha agido de má-fé, embora se tenha declarado petista e embora tenha baseado a matéria também em informações colhidas com o advogado da presidente nacional do Partido dos Trabalhadores.

Entretanto, a matéria, neste particular, além de confusa, ficou duvidosa, estrambótica, difícil de assimilar.

Tendo em vista pedido apressado do PT, o caso está sob investigação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o intuito de apurar se houve crime eleitoral por parte do candidato Jair Bolsonaro.

É razoável dizer que o PT mirou em Jair Bolsonaro e atingiu o próprio pé. Simultaneamente, a Procuradoria Geral da República pediu investigação sobre possíveis e semelhantes propagandas ilegais nas redes sociais envolvendo também o Partido dos Trabalhadores.

Mas são injustificáveis os insultos que as redes sociais estão direcionando à jornalista Patrícia Campos Mello, que está cumprindo o seu papel profissional. Mesmo que a reportagem não tenha atingido Bolsonaro ou Haddad, a jornalista demonstrou que há empresas oferecendo o serviço ilícito para campanhas eleitorais.

A ilicitude reside no fato de que as mensagens disparadas através de WhatsApp e referidas na reportagem foram contratadas e pagas por empresas, o que é proibido pela legislação eleitoral.

Mas a Folha de S. Paulo é um jornal sério e sabe se conduzir muito bem.

araujo-costa@uol.com.br

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