É comum que candidatos façam suas estratégias de campanha com base em levantamentos próprios e não, unicamente, baseados em dados apontados pelos institutos de pesquisas.
Não há novidade nisto. Candidatos também fazem pesquisas próprias e se servem delas para traçar planos, roteiros, estratégias e antever vitórias ou derrotas.
Sendo assim, deve haver algo preocupante na campanha de Fernando Haddad relativamente ao Nordeste.
No primeiro turno, ele foi muito bem votado nos estados do Nordeste, aliás sua melhor votação, assim como os governadores de lá que lhe apoiam incondicionalmente.
Entretanto, se não mudar, parece que Haddad voltará ao Nordeste na reta final da campanha, quinta e sexta-feira próximas, exatamente para fazer comícios em alguns dos estados em que obteve expressiva votação: Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Ou Haddad tem informações internas no sentido de que está perdendo votos para o adversário naqueles estados e precisa recuperar ou a direção da campanha do PT está perdida.
No primeiro turno, foi esta a votação que teve nos estados que ele pretende visitar:
Bahia: 60,28%;
Pernambuco: 48,87%;
Rio Grande do Norte: 41,19%;
Inegável a supremacia de Haddad no Nordeste sobre Jair Bolsonaro, graças ao carisma de Lula.
Haddad esteve no Ceará no último final de semana, mas isto é compreensível. Lá ele obteve 33,12% dos votos no primeiro turno, mas em seguida o senador eleito Cid Gomes fez um estrago na campanha do PT, que justificou a visita do candidato. Botar panos quentes, serenar os ânimos. E até, para ficar bonito, tirou foto com chapéu de couro aos pés do padre Cícero, em Juazeiro do Norte.
Magoado com Lula e o PT, após o primeiro turno Ciro Gomes foi para a Europa e deixou o irmão para jogar esterco no ventilador de Haddad. Deu certo.
É a vingança maligna contra Lula, que Ciro ama, mas não é de ferro. Sentiu-se traído.
Quando Ciro Gomes voltar, não haverá mais tempo para fazer alguma coisa em benefício de Haddad, se quisesse. Mas ele não quer.
Pelo que se vê, parece desnecessária a presença de Haddad nesses estados em que saiu vitorioso no primeiro turno. A tendência é manter a votação do primeiro turno, com a força dos governadores, que foram bem avaliados pela população de seus estados.
Observe que Haddad encerrou a campanha de segundo turno na Bahia, lá para as bandas de Feira de Santana.
Na Bahia, os votos de Rui Costa, eleito no primeiro turno com 75,50%, Jaques Wagner e aliados vão para ele, independentemente de sua visita ao estado.
A lógica indica que o razoável seria Haddad visitar as regiões em que se saiu mal nas urnas, tentar evitar abstenções e tirar votos do adversário.
Haddad sonhou com uma frente partidária lhe apoiando no segundo turno. Alguns partidos foram subindo ao telhado, um a um e se negaram a apoiá-lo publicamente. Outros sequer chegaram ao telhado. Ficaram em cima do muro e lhe ofereceram o chamado “apoio crítico”.
Ao invés de ver navios, Fernando Haddad ficou a ver Bolsonaro.
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