A campanha eleitoral do candidato do Partido Social Liberal (PSL) não é uma campanha, propriamente. Mas é seguramente certo, que é um amontoado de erros, mormente em razão da falta de experiência do partido e aliados mais próximos do capitão Jair Bolsonaro.
Bolsonaro e sua equipe não têm know how, não têm conhecimento e saber prático na condução de campanhas eleitorais. O PT tem. Experiência e malandragem política, com um diferencial: não joga limpo, nunca jogou limpo. Ou porque o jogo eleitoral é mesmo sujo ou porque o PT não prima pela dignidade.
A esteira de apoio a Bolsonaro nasceu e cresceu espontaneamente, com destaque nas redes sociais, pulverizou-se em todas as regiões do Brasil e, mais do que isto, o PSL não conta com altas somas de dinheiro para sustentar a campanha, a exemplo do PT, que só de Fundo Partidário abocanhou mais de R$ 212 milhões.
Bolsonaro, ao contrário, sustenta-se na vontade de parte da sociedade, que leva adiante a campanha e sonha em sair vitoriosa nas urnas de domingo próximo.
Contudo, no decorrer da campanha do PSL surgiram erros monumentais. Tais erros começam por asneiras ditas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do candidato presidencial e, mais do que isto, com opiniões de alguns militares da reserva do Exército, inegavelmente despreparados para lidarem com estratégias e questões eleitorais.
Uma coisa é a linguagem dura, a conduta castrense, a disciplina dos quartéis. Outra é, completamente diferente, a selvageria das disputas eleitoras.
Campanhas eleitorais devem ser dirigidas e tocadas por quem entende, como é o caso do PT, que contrata marqueteiros profissionais mediante pagamento de somas milionárias. É tradição do partido.
Quem não entende dos meandros da política e estratégias eleitorais, o mínimo que deve fazer é fechar a boca para não atrapalhar e, se puder e de preferência, ficar em casa quietinho.
Por outro lado, falas e opiniões do próprio Bolsonaro desenterradas de sua vida e atuação parlamentar estão sendo usadas pelo PT para desconstruir a imagem do adversário. São opiniões na linha diversa do politicamente correto, sabiamente exploradas pela esquerda, em desfavor do candidato do PSL. Vem dando certo.
Outra falha da campanha de Bolsonaro é a incapacidade de derrubar as acusações feitas pelo PT e, ato contínuo, apontar os erros do partido, que são muitos e comprovados. Bastava ter apresentado a folha corrida dos dirigentes petistas e provar que eles estão muito longe de parecer freiras contemplativas.
Por outro lado, há um silêncio patético da parte do candidato do PSL sobre as acusações do adversário, postura que beneficia sobremaneira o candidato do PT, que Lula da Silva jogou nessa fogueira de vaidades.
Há exageros na propaganda eleitoral do PT, mas se a legislação não coíbe tais exageros, o partido faz. “Vai que cola?”. E tem colado, eficientemente.
Por exemplo, atribuir ao candidato do PSL a predileção pelo sofrimento humano através de tortura e, mais do que isto, levar para a televisão imagens ilustrativas dessas práticas abomináveis, que não mais existem, não é ético, além de incompatível com o momento por que passa a sociedade brasileira.
A tortura é página virada de nossa história. É desonesto o PT insistir nisto.
O que menos Haddad e Bolsonaro discutiram foi proposta de governo.
O PT partiu para chutes certeiros abaixo da cintura do adversário. Isto o partido sabe fazer e, convenhamos, com desenvoltura e eficiência. Prioriza as acusações, o vale tudo, os ataques. Danem-se a ética e a decência.
De qualquer forma, a inexperiência do PSL e a desfaçatez do PT tiraram o brilho da campanha eleitoral.
A campanha podia ter-se baseado em propostas de mudança, que os brasileiros precisam. Faltou razoabilidade no nível da campanha.
O Brasil comporta campanhas eleitorais sérias, limpas, respeitosas, embora pareça estar longe disto.
Os erros primários da campanha de Jair Bolsonaro e a acidez da propaganda do PT contribuíram enormemente para dificultar o eleitor no momento de escolher o próximo presidente da República.
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