Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) costumava dizer que “são as brigas que tornam a vida pública realmente pública”.
Brigas de ideias, evidentemente, embora ele também gostasse de enfrentar outros tipos de briga.
Antonio Carlos Magalhães tinha um adversário histórico: Waldir Pires. Exilado, Waldir cutucava ACM, que se aboletou no poder arraigadamente, adquiriu prestígio monumental na Bahia e fora dela e aliou-se ao regime militar, que havia forçado o exílio de Waldir.
Todavia, ACM gostava das polidas, mas firmes provocações de Waldir, para alimentar a imprensa e virar notícia. Ambos foram amigos na juventude, contudo tornaram-se adversários, Waldir à esquerda, de princípios socialistas e ACM voltado para a direita.
De volta do exílio, o destino permitiu que Waldir impusesse retumbante derrota ao candidato de ACM ao governo da Bahia, professor Josapha Marinho e inverteram-se os lados da oposição e da situação.
Hoje a oposição na Bahia está anêmica. Corre o risco de evoluir para a morte e passar para o estado de decomposição.
Esfacelados e vazios de ideias, os principais partidos de oposição ao atual governador Rui Costa lançaram o nome do insosso José Ronaldo (DEM), prefeito de Feira de Santana, para disputar o governo do estado. Um desastre, uma vergonha, um vexame.
ACM Neto tentou imitar o avô. Em 1982, Antonio Carlos Magalhães foi buscar às pressas, em Feira de Santana, o ex-prefeito João Durval Carneiro e o ungiu governador da Bahia.
O candidato de ACM, já em campanha, era o pastor protestante Clériston Andrade, que faleceu em acidente aéreo poucos dias antes da eleição lá para as bandas de Caatiba.
O prefeito ACM Neto faz parte de uma oposição desfalcada, fraca, sem poder de convencimento e sem estratégica para enfrentar o feudo petista instalado no estado.
O PSDB de Antonio Imbassahy e nada é a mesma coisa; e o DEM comandado pelo próprio ACM Neto não reúne o prestígio deixado pelo espólio do PFL de ACM. Faltam-lhe carisma, experiência, lastro eleitoral.
As demais lideranças que compuseram a base da oposição nas eleições de 2018 nada tiveram para contribuir eleitoralmente.
O desastre se materializou nas urnas com míseros 22,26% dos votos atribuídos a José Ronaldo, salvo engano.
Na verdade, a Bahia empobreceu-se politicamente. Um exemplo é o MDB da família Vieira Lima – Geddel, Lucio, etc – que caiu em desgraça e ficou mais próximo dos presídios do que das urnas. Evaporou-se.
Ainda sobre Antonio Carlos Magalhães, dentre outros feitos, ele implantou o Centro Administrativo da Bahia (CAB), reformou o casario do Pelourinho, revitalizou a Lagoa do Abaeté, abriu avenidas em Salvador e viabilizou a estrada litorânea até a divisa com Sergipe. Na condição de prefeito de Salvador ou de governador da Bahia, ACM era uma força imbatível na Bahia. E tinha oposição séria, vigilante, atenta.
Nesse tempo, era comum uma cena, que hoje não se vê mais em política: quando ACM notava grande aglomerado de pessoas descia do carro e caía nos braços do povo. Hoje essa cena deslocada para a maioria dos gestores públicos foi substituída por vaias, empurrões e grande quantidade de seguranças pagos com dinheiro público para afastarem as pessoas dos governantes.
O fato é que, como diz o ditado, “onde não tem onça veado folga”. Não há oposição na Bahia.
O governo da Bahia não tem opositores respeitáveis. Faz o que quer, governa como quer, diverte-se como quer. À custa do povo.
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