Prefeito de Curaçá faz balanço otimista

“Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem” (Santo Agostinho).

Em recente entrevista concedida à Radio Boa Vista FM, o prefeito Pedro Oliveira, de Curaçá, eleito por uma coligação de onze partidos, tendo à frente o PSC (Partido Social Cristão), fez uma retrospectiva de sua gestão à frente do município.

A entrevista pecou num ponto: a insistência do prefeito em comparar sua gestão com as anteriores, mormente com a de Carlos Luiz Brandão Leite, embora não o tenha citado e, a partir daí, enumerar os feitos da atual administração municipal.

Essa estratégia dá a impressão de que o prefeito já está se preocupando com o próximo pleito e atapetando o caminho, o que não é bom e pode arranhar suas boas intenções com vistas ao enfrentamento dos atuais problemas do município.

Depreende-se da entrevista que, em Curaçá, nada funcionou antes da atual gestão, embora o prefeito tenha razoavelmente demonstrado os feitos de sua administração e apontado os erros das anteriores.

A prioridade do gestor público deve ser o cumprimento das atribuições que o mandato lhe outorgou. Sempre. O resto é consequência, inclusive a avaliação dos munícipes e a eventual recondução ao cargo através das urnas.

Não sou ingênuo a ponto de acreditar que a administração de Carlinhos Brandão cometeu todos os pecados de Curaçá, tampouco minha ingenuidade permite acreditar que a gestão do prefeito Pedro Oliveira esteja indo tão irrepreensivelmente bem, como apregoam alguns de seus correligionários e ele próprio, embora com mais prudência e moderação.

Dentre os erros de Carlinhos Brandão – e foram muitos – cito apenas dois, para, de certa forma, entender o esforço do prefeito Pedro Oliveira em justificar o que está sendo possível fazer em sua gestão:

  1. a alegada apropriação ilegal de recursos da Caixa Econômica Federal referente às parcelas de empréstimos consignados concedidos aos servidores do município, na ordem de aproximados R$ 2 milhões;
  2. a rejeição das contas de 2016, tendo em vista que o prefeito assumiu obrigações naquele ano, sem condições de cumpri-las integralmente no próprio exercício ou tenha deixado recursos disponíveis para saldá-las no exercício seguinte.

Estas práticas são contrárias à lei. Todo gestor público tem obrigação de conhecer essa regra. É norma elementar e, se não cumprida, certamente produzirá reflexos nos exercícios subsequentes.

Na entrevista, o prefeito citou a reforma do Hospital Municipal, a aquisição de equipamentos novos, contratação de profissionais (psicólogo, pediatra, nutricionista, urologista, etc), além de “médicos de suporte” nos finais de tarde. Informa investimento na unidade hospitalar da ordem de R$ 796 mil.

Os chamados “médicos de suporte”, nos finais de tarde, autoriza a presumir certa provisoriedade, vez que o hospital deve disponibilizar médicos em todos os períodos para atenderem aos que procuram.

O prefeito Pedro Oliveira discorreu sobre uma unidade móvel odontológica já à disposição da população, atendimento médico periódico nos povoados e distritos, viabilização de diversas especialidades médicas, fornecimento de próteses dentárias e, ainda na área da saúde, o fornecimento de refeições aos ocupantes da casa de apoio em Salvador.

No que tange à educação, que o prefeito diz ter encontrado “de pernas para o ar”, é sabido que Curaçá sempre foi relapso nesse particular. Trata-se de uma área crítica, abandonada, negligenciada.

E daí, questiona-se: como chegar a esse ponto, se há leis que definem o percentual mínimo que se deve empregar na educação?

O prefeito Pedro Oliveira citou casos alarmantes, tais como: alunos estudando em mercado há oito anos, em razão de falta de salas de aula, obras inacabadas, apesar de recursos destinados, a exemplo de uma escola em Mundo Novo, equipamentos quebrados, falta de respeito com os recursos públicos e desfiou um rosário de descasos das administrações anteriores.

Todavia, o prefeito também falou de coisas alvissareiras. Disse que está com os salários dos servidores em dia, “como manda a lei”, anunciou o fornecimento de fardamento e material escolar a todos os alunos da rede municipal, a expectativa de aquisição de notebook para os professores, finalização das obras do estádio municipal, reconstrução da referida escola de Mundo Novo e a utilização adequada dos recursos dos precatórios.

Entretanto, o prefeito reconheceu outro problema difícil de resolver: a recuperação e manutenção das estradas do município, debitando o estado de precariedade às chuvas e falta de recursos.

Sobre a recente contribuição de iluminação pública (CIP), criada por lei, o prefeito esclareceu que essa contribuição somente é devida por moradores das zonas urbanas, de sorte que, eventuais cobranças de moradores das zonas rurais não procedem, e devem ser reclamadas diretamente na COELBA.

No mais, o balanço do prefeito Pedro Oliveira enveredou pelo otimismo, talvez um pouco exagerado.

Informações que este escrevinhador recebe continuamente dão conta de que Curaçá não vai tão bem assim, até pela escassez de recursos. Mas o prefeito demonstra disposição de melhorá-lo.

O prefeito Pedro Oliveira é inteligente, articulado, parece conhecer bem o seu papel.

Mas ele precisa atentar para o ensinamento de Santo Agostinho: “Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem”.

Há correligionários do prefeito exagerando demais nos elogios.

araujo-costa@uol.com.br

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