“Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados” (Barão de Itararé, 1895-1971)
Abaré está às voltas com um imbróglio envolvendo o chefe do Poder Executivo o que, aliás, tem sido comum na história do município. Outros prefeitos de lá já passaram por situação análoga.
O prefeito Fernando José Teixeira Tolentino, eleito por uma coligação de oito partidos, tendo o PT à frente, foi cassado recentemente pela Câmara Municipal com respaldo em entendimento do Tribunal de Contas dos Municípios.
A Câmara é composta de onze vereadores. O prefeito conta apenas com a simpatia de três, salvo engano: Gabriel Ribeiro dos Santos, Ítalo Paulo Cerqueira Mariz e Sebastião Alcides dos Santos.
Os demais são da oposição ou concordam com ela.
Os vereadores convocaram sessão extraordinária com base no artigo 90, inciso III, do Regimento Interno da Câmara Municipal e selaram o destino do prefeito por maioria inquestionável: ejetaram-no do cargo.
Para tentar entender a situação política de Abaré é preciso ter em vista algumas premissas que passam inarredavelmente pelo ex-prefeito Delísio Oliveira da Silva. É uma miscelânea.
Delísio, respeitado chefe político local, não obstante carregar uma confusa história política em seu curriculum, manda, desmanda e tem influência em quase todos os redutos do município de Abaré.
Na eleição de 2016, indicou o filho Delísio Oliveira da Silva Filho (Del de Delísio) para concorrer ao Poder Executivo. O indicado teve 48,92% dos votos, ao passo que Fernando Tolentino (PT) abocanhou 51,08%. Diferença pequena, tímida, 231 votos.
Entretanto, como manda a vaidade, Delísio Oliveira da Silva não absorveu a derrota. Experiente, passou a vigiar a atuação do prefeito, os passos do prefeito, a conduta do prefeito.
Marinheiro de primeira viagem, o prefeito não demorou a cair na esparrela e o ex-prefeito Delísio o denunciou por supostas irregularidades, tais como improbidade administrativa e descumprimento da lei de responsabilidade fiscal.
Dentre outras acusações, consta que o prefeito alugou de um ex-vereador e aliado político, um imóvel abandonado, impróprio para o uso. Mesmo assim, manteve o pagamento do aluguel de R$ 8,6 mil durante um ano ou próximo disto, em prejuízo dos cofres públicos.
Mais: por falta de habilidade política, o prefeito ainda sinalizou o rompimento com o vice e, em consequência, engrossou os votos de oposição na Câmara Municipal. Ficou vulnerável às cobras.
Todavia, estranha nisto tudo é a situação do ex-prefeito Delísio Oliveira da Silva, que o denunciou. Estranha, mas nem tanto, consideradas as conhecidas façanhas de Delísio.
Ademais, há notícias de que ele não foi um bom exemplo à frente da administração do município. Mas tem a seu favor o que falta ao prefeito Fermando: carisma e capacidade de driblar o infortúnio.
Delísio antes era adversário político da família do vice-prefeito. Hoje é quem mais quer a posse do vice. Quer neutralizar o grupo político do prefeito petista Fernando Tolentino e atapetar o caminho em direção às próximas eleições.
O silêncio pode significar espera. Há líderes em Abaré aguardando a derrocada do prefeito, embora silentes.
Em razão da cassação do titular, o engenheiro Carlos Augusto Teixeira do Nascimento Filho (Kaká de Eulina) assumiu imediatamente o cargo, mas o Tribunal de Justiça da Bahia, em decisão posterior, suspendeu a decisão da Câmara Municipal e reconduziu o prefeito às suas funções, que continua lá, por enquanto.
Portanto, o caso está sub judice.
A disputa judicial vai continuar e, sendo assim, é prematuro arriscar qual será a situação definitiva do chefe do Poder Executivo de Abaré.
Todavia, a julgar pelo histórico do ex-prefeito Delísio, a situação dele assemelha-se à do prefeito Fernando Tolentino. Se a correnteza jurídica continuar caudalosa, ambos terminarão afogados nas águas da esperteza.
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