Sobre o apóstolo Paulo

Há alguns anos, um estudante universitário me procurou com o intuito de colher alguns subsídios sobre a vida de Paulo de Tarso, o apóstolo Paulo para, segundo ele, embasar trabalho escolar sobre a história das religiões ou coisa parecida.

Em princípio, enveredei pelo caminho mais lógico e lhe sugeri a leitura da Bíblia, as clássicas epístolas de Paulo ao povo de Corinto, Tessalônica, Éfeso, et cetera, todas facilmente encontráveis no Novo Testamento.

Disse-lhe se tratar de leitura enriquecedora e que, ainda com o nome de Saulo, Paulo tinha sido perseguidor de cristãos, depois se converteu ao cristianismo, passou a ser conhecido como apóstolo dos gentios, depois mártir e coisa e tal.

Atento, ouviu minha sugestão e, entre sério e decepcionado, sapecou de chofre:

– Ler a Bíblia? Tá me tirando?

Neguei que pretendia tirar-lhe alguma coisa. O rapaz contou que um amigo me havia indicado o que, de certa forma, fiquei envaidecido e ele, com certeza, decepcionado.

Quem sabe – ele disse – eu poderia ajudar, não precisava ser trabalho muito alentado, bastava um resumo, coisa lá sem muita profundidade.

Cá entre nós, tenho conhecidas dificuldades de escrever resumos. Meus escritos são longos, quilométricos, cansativos, enfadonhos, palavrosos.

Amigos sinceros já me disseram que frequentemente desistem de terminar a leitura de alguns de meus textos, lá por volta do quinto ou sexto parágrafo, tamanha a prolixidade e, às vezes, ausência de conteúdo plausível à expectativa do leitor.

Confesso mesmo que não sou chegado a textos curtos, porque entendo restritivos às asas do pensamento. E esta minha mania de escritos longos chega a ser uma gafe imperdoável nestes tempos de internet.

Mesmo assim, confesso, não me considero jurássico. Ainda há pessoas que leem meus escritos até o fim.

Como tenho conhecimento de que o amigo que me indicou ao rapaz sabe dessa minha dificuldade de fazer resumos, foi a minha vez de perguntar:

– Eu, fazer resumo? Tá me tirando?

O fato é que ninguém tirou nada de ninguém e concordei em ajudar-lhe, fazer algumas ligeiras considerações sobre a vida de Paulo, grande escritor do primitivismo cristão, porque, ademais, sou admirador daquele ilustríssimo homem de Cristo.

Contudo, ainda sugeri ao interessado e diligente estudante, por derradeiro, que talvez fosse mais apropriado ele procurar o padre da paróquia, sujeito dedicado às coisas de Deus e dos santos, mas não obtive êxito. Sobrou mesmo para este pecador abestado.

Passei quase uma noite absorto em papéis e, no dia seguinte, apresentei minha humilde contribuição àquele estudante que, graças a Deus, no mundo cruel de hoje, ainda se preocupa com a história das religiões. Elas acrescentam muito.

Talvez um passo para entender os grandes homens da humanidade e desprezar, por alguns momentos, a selvageria de nosso tempo e a pequenez de nossas ações.

araujo-costa@uol.com.br

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