Este é o retrato do fracasso de nossa representação parlamentar.
O deputado federal Manoel Isidório de Santana Júnior (AVANTE-BA) disse que “estava gay”, mas foi “curado” e, portanto, não é mais homossexual.
Não sei o que isto interessa para os baianos, mas o deputado acha relevante declinar sua condição de “ex-gay” que foi “curado”.
Pelo que se sabe, a homossexualidade foi considerada patologia no fim do século XIX, mas deixou de ser vista assim, por falta de embasamento científico. Era considerada “distúrbio degenerativo”, mas a ciência evoluiu e mudou o entendimento.
Em consequência, em maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) excluiu a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças e, se doença não é, não se pode falar em cura.
O folclórico deputado federal da Bahia foi ou é “feirante, cobrador de ônibus, professor de dança folclórica, sargento da Polícia Militar e pastor evangélico” (O Globo, 27/09/2016). Como se vê, percorreu uma trajetória respeitável.
Do alto de sua experiência de “ex-gay”, Sua Excelência disse que queimou muito por aí, mas em respeito aos meus presumíveis leitores menores não preciso dizer o que ele diz que queimava.
O deputado só não explicou porque, com tanto ânsia de queimar, não chegou a pegar fogo.
O pastor-deputado disse mais: “Eu vivi no alcoolismo, sou policial militar há 38 anos. Assim que entrei com 18 anos na PM, foi aquilo né: revólver na cintura, beber, ficar bonito, namorar, só que veio o alcoolismo, depois as drogas, aí perdi a dignidade. Fui planejar assalto, virei homossexual. Aí conheci Jesus” (O Estado de S.Paulo, 04/02/2019).
Não sei também o que isto interessa para os baianos.
O sujeito deita e rola, faz tudo de acordo com sua vontade e depois põe o nome de Jesus no meio. O que Jesus tem a ver com isto?
Mas aqui o assunto vai além, que ninguém tem nada a ver com a escolha sexual do pastor-deputado e tampouco com o que ele queima ou queimava. Nem Jesus, acho.
O pastor-sargento Isidoro foi eleito deputado federal pela Bahia, onde já havia exercido três mandatos de deputado estadual.
Segundo a imprensa, seu primeiro projeto de lei protocolado na Câmara dos Deputados neste início dos trabalhos legislativos pretende “declarar a Bíblia Sagrada como patrimônio Nacional, Cultural e Imaterial do Brasil”.
Até aí, tudo bem. Mas a Bíblia Sagrada já ostenta esta condição. É patrimônio imaterial dos povos há séculos, independentemente da vontade do pastor-deputado baiano.
Qual a praticidade desse projeto?
Parece que está faltando ideias ao nobre pastor-sargento-deputado.
Quiçá ele esteja precisando estudar mais sobre a homossexualidade para aprender que, cientificamente, não se trata de doença.
O deputado talvez esteja precisando apresentar projetos mais consentâneos com os anseios dos baianos e atentar mais para a representação parlamentar.
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