Em outubro acontecerá em Roma o Sínodo sobre a Amazônia, que reunirá pelo menos 250 bispos do mundo inteiro.
O presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é o cardeal D. Claudio Hummes, ex-bispo da diocese de Santo André no ABC paulista e ex-arcebispo de São Paulo.
D. Claudio Hummes, que é prefeito emérito da Congregação para o Clero, em Roma e participou de outras congregações vaticanas, tem tradição de apoio aos trabalhadores e pessoas mais necessitadas.
Conhece a fundo nossos problemas, inclusive da Amazônia.
Quando bispo de Santo André, D. Claudio apoiou a histórica greve dos metalúrgicos do ABC liderada por Lula da Silva. Num ato de coragem, enfrentou a ditadura militar e franqueou a igreja matriz de São Bernardo do Campo para os metalúrgicos se reunirem e servir de base de apoio ao movimento. O sindicato estava sob intervenção.
O Sínodo discutirá assuntos tais como mudanças climáticas, índios, povos ribeirinhos e conflitos da terra, dentre outros.
Ocorre que órgãos de inteligência do governo já detectaram forte influência de parte do clero da esquerda católica no Sínodo que, dentre outras coisas, é a favor da presença de estrangeiros na Amazônia e defende a política agrária nem sempre compatível com a soberania nacional.
O intuito – diz o governo – é atrapalhar a política governamental para a Amazônia.
A esquerda católica carrega o ranço do enfrentamento à ditadura (1964-1985) e insiste em olhar para o retrovisor da história.
D. Claudio Hummes, moderado e experiente, ciente da efervescência do clero esquerdista na discussão dos temas do Sínodo, sabiamente ponderou: “Deve-se ter a preocupação de não olhar para o passado, mas para o futuro”.
A história registra que, nem sempre a participação de membros do clero católico em assuntos de interesse nacional tem dado certo.
Em 2005, repercutiu como um vexame desnecessário, a greve de fome de D. Luiz Cappio, bispo de Barra-BA, contra a transposição do Rio São Francisco, uma das bandeiras do governo de Lula da Silva. Lula se surpreendeu e nunca entendeu a posição do bispo.
Pode-se dizer tudo da transposição do São Francisco, inclusive que houve superfaturamento e tem qualidade duvidosa da obra em alguns trechos. Mas é inegável que a obra idealizada há século, beneficiou grande parte da população de alguns estados do Nordeste.
Contudo, o bispo de Barra foi contra, o que fica claro que nem sempre a opinião de membros da Igreja sobre assuntos de governo é acertada.
Agora, no limiar do governo Bolsonaro, outro bispo, D. André de Witte, da diocese de Ruy Barbosa, também na Bahia, apareceu com uma conversa arrevesada no sentido de que o governo federal apresenta “perigo real”.
Não consta que os brasileiros tenham pedido a opinião do bispo de Ruy Barbosa, que é belga e, portanto, não deve se intrometer em assuntos nacionais e de governo.
É razoável presumir que o Vaticano mandou Sua Excelência Reverendíssima para o Brasil para cuidar das coisas da igreja e não de assuntos de governo.
O lugar de bispo continua sendo na igreja.
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