Curaçá: o limite entre o sonho e a ética

“Ao rei tudo, menos a honra” (Calderon de La Barca, teatrólogo madrileno do século XVII).

O conceituado jornalista Maurízio Bim, honra e glória de Curaçá, conta que Donizete Nunes Franco, curaçaense de boa cepa, senhor honrado e respeitado, dizia que Raul Coelho comprou um rádio lá para as bandas de 1920 ou próximo disto.

Segundo Donizete, “o povo indo se admirar, assistir o bicho falador. O dono o botava na janela de sua casa para o povo ouvir. Uma mulher teimou e teimou, queria ver o homem que estava dentro da caixa”. (Maurízio Bim, História da Imprensa de Curaçá, primeira edição, página 10).

O ínclito sociólogo Esmeraldo Lopes, que sabe tudo de Curaçá, também conhece a história.

À semelhança daquela mulher, os curaçaenses devem estar ansiosos para ver o interior da caixa onde está o monumental desenvolvimento experimentado pelo município de Curaçá na atual administração, conforme apregoa a assessoria de Sua Excelência o prefeito Pedro Oliveira.

Nesses tempos de redes sociais, fake news e outros terrenos perigosos do mundo virtual, nem tudo que se lê ou se ouve deve ser levado a sério. A cautela recomenda sopesar, analisar, checar, ponderar, conferir.

Entretanto, juro que captei num grupo de WhatsApp que, somente em 2019, Curaçá terá 300 empregos diretos oriundos do setor privado até junho, com carteira assinada e mais 2.000 empregos diretos provenientes do setor público, estes presumivelmente até o final do ano.

Isto equivale, segundo a praxe estatística que Curaçá terá, pelo menos e aproximadamente, 6.900 empregos indiretos, somente em 2019.

Como se vê, Curaçá será um oasis de desenvolvimento neste Brasil de desemprego e desesperança.

Já era madrugada quando tive conhecimento do milagre curaçaense.

Confesso que me deu uma vontade danada de telefonar para meus amigos empresários paulistas mais chegados, acordá-los e dizer, orgulhosamente: estão vendo! São Bernardo do Campo, que faz parte de uma metrópole, está padecendo por falta de empregos, mas em meu caatingueiro município baiano de Curaçá, nas barrancas do São Francisco, só este ano de 2019 haverá vagas para 2.300 empregos diretos.

É muito emprego. Em proporção à população de Curaçá, até as formigas de lá estarão empregadas.

Do alto de minha insignificância, não estou duvidando da informação veiculada no grupo de WhatsApp, mas Curaçá deve ser o único município brasileiro onde o dinheiro está rolando adoidadamente. Isto é animador.

Como sou homem de fé, atribuo o milagre curaçaense às bênçãos de São Benedito e do Bom Jesus da Boa Morte.

Mãe Sérgia (Sérgia Maria da Conceição), que tanto amou Curaçá e seus filhos deve ter ajudado os santos a elevarem Curaçá às alturas do desenvolvimento.

As associações de municípios, prefeitos, governos estaduais e governo federal são unânimes em dizer que os municípios estão financeiramente quebrados, muitos até com dificuldade de cumprirem a folha de pagamento.

Em Curaçá, não é bem assim, a julgar pelas informações veiculadas pela assessoria do prefeito Pedro Oliveira. O município parece que se transformou num canteiro de obras, em todos os setores.

Não há crise, deduz-se.

Todavia, essa bonança apregoada pela assessoria do prefeito ainda não chegou ao setor que cuida do desenvolvimento rural do município. Pelo menos é o que me informam pessoas que solicitam apoio da Prefeitura e não são atendidas sob a alegação de falta de equipamento necessário para suprir as necessidades do homem do campo.

Curaçaense que sou, com muito orgulho, torço que Curaçá se desenvolva nos moldes delineados pela assessoria da Prefeitura, mas ainda não cheguei à fase de acreditar em Saci-Pererê.

Entendo que os sonhos não podem ultrapassar o limite da ética. E a ética recomenda, no mínimo, prudência.

A população tem o direito de ser informada e o Poder Público tem o dever de informar. Mas com serenidade e sem exageros.

araujo-costa@uol.com.br

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