É conhecido o episódio envolvendo o ex-presidente Jânio Quadros e um estudante universitário.
Jânio ministrava palestra numa instituição. Terminada a preleção, foram franqueadas as perguntas.
Um estudante fez a primeira pergunta, utilizando palavras inapropriadas para se dirigir ao ex-presidente da República.
Jânio o ouviu com atenção, perguntou o nome do interlocutor, remexeu-se na cadeira e disparou:
– “Abraham Lincoln, que o senhor deve saber quem é, dizia que intimidade gera filhos ou aborrecimentos. Como não quero ter nenhum dos dois com o senhor, me respeite e coloque-se no seu lugar”.
Adepto da frase “Jânio é um louco que se julga Jânio”, o jornalista Gilberto Vieira de Souza diz que esse fato se deu em entrevista com uma jornalista. Pode ser que Jânio tenha repetido a frase em mais de uma ocasião.
Jânio em público era ríspido, formal, fazia questão de manter distância de jornalistas e intrusos, principalmente de intrusos.
Em casa era outro, mudava o rumo da conversa, esticava o papo, gostava de prosear.
Frequentei a casa de Jânio Quadros quando ele morou na Rua do Estilo Barroco, em Santo Amaro, capital paulista. Ele tinha diversos endereços.
Em casa, Jânio sabia se metamorfosear: diferente, informal, elegante, curioso, por vezes brincalhão, mas respeitador, sempre respeitador. Por isto a máxima “Jânio não tinha amigos, mas admiradores”.
Conto um desses encontros com Jânio no meu livro Fragmentos do Cotidiano, de 1987.
Bem informado, Jânio Quadros tinha muitos amigos jornalistas. Os jornalistas o respeitavam como fonte de informação segura e respeitável e jamais publicavam qualquer coisa contrária aos princípios do ex-presidente.
Estou dizendo tudo isto, porque em data recente publiquei um texto neste blog que incomodou algumas pessoas de certo município baiano.
Meus textos não têm o intuito de ofender ninguém, tampouco de melindrar quaisquer pessoas. São pontos de reflexões. Só isto. Nada mais do que isto.
Entretanto, fui surpreendido com o contato de um senhor insinuando que eu revelasse a fonte de minhas informações sobre aquela matéria.
Mandei cantar noutro terreiro.
Há pessoas que misturam política com politicagem.
Há pessoas que não sabem a diferença entre debate de ideias e tendência política, ideológica e eleitoral.
Quase me valho da frase de Jânio sobre a intimidade, mas me contive.
O sigilo da fonte é garantia e proteção constitucionais.
Mas nem todo mundo sabe.
araujo-costa@uol.com.br