“Amigo é o que chega quando as outras pessoas estão indo embora” (Walter Winchell, 1897-1972).
Quase sempre a saudade conspira em direção ao entristecer e às lembranças inevitáveis. Às vezes cruel, às vezes lúdico, o caminhar nos faz espectadores do tempo. E o tempo é testemunho das lágrimas, companheiro das fragilidades e cutuca implacavelmente nossas arrogâncias.
Já se vão, por aí, algumas décadas. Eu tinha uma amiga em Barro Vermelho, simpático território de meu baiano e sanfranciscano município de Curaçá: Iolanda Martins Ribeiro.
Mais do que amiga, Iolanda dividia comigo as angústias, as dificuldades do caminho que percorríamos. Eram muitos nossos tropeços em direção ao desconhecido. Também rimos muito de nossas ingenuidades.
O esteio que nos segurava era a esperança, o antever dos horizontes, porque a realidade se afigurava muito difícil, como de resto é até hoje. A realidade é sempre difícil.
Iolanda era atenciosa, reflexiva, impressionantemente preparada para a vida. Tempos difíceis, mas tempos em que construíamos amizades que perduravam, mesmo depois da morte. O indizível da amizade é sua infinitude.
Quantas vezes na calçada de sua casa, em Barro Vermelho, comentamos as ciladas da vida, as dificuldades, a luta pela continuidade de nossos sonhos! Aprendi com Iolanda a resignação ou um pouco dela. Ela dizia, com sabedoria: “Se é assim, então vamos em frente”.
Hoje letrado, ou pensando que sou, depois de ler muito o filósofo prussiano Nietzsche, entendo o pensamento de Iolanda ao me ajudar a enfrentar a vida: Nietzsche perguntava, diante do imutável: “Então, era isto a vida? Pois bem: repita-se”.
Se não há como evitar os tropeços, então prossigamos na caminhada. No decorrer do caminho, a certeza é somente o caminho, nunca o que pode acontecer nas encruzilhadas.
Ou talvez, mais próximo do espanhol Antonio Machado: “Caminhante! Não há caminho. O caminho se faz ao caminhar”.
Iolanda tinha um quê de resignação ou de saber resignar-se. As incertezas daquele tempo me fez admirá-la sempre. Coisas da juventude. Coisas valiosas da juventude. Coisas inesquecíveis da juventude.
Nos momentos difíceis, “amigo é o que chega quando as outras pessoas estão indo embora”.
Conheci Iolanda Martins Ribeiro num desses momentos de vazio, próprio da juventude. Ela me ajudou muito a superá-lo e seguir em frente.
Iolanda será sempre presente em minhas reflexões.
Valeu o caminho. Valeu conhecê-la. Vale o dizer da saudade.
araujo-costa@uol.com.br
Conheci Iolanda gente de qualidade.
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