“As pessoas, ou são corruptas, ou são incorruptíveis, não há meio termo” (Antonio Carlos Magalhães).
Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) foi governador da Bahia por três mandatos e o político que deteve mais poder no estado durante décadas.
Mandou construir a Linha Verde, bela estrada turística que vai de Lauro de Freitas à divisa com Sergipe, contemplando praias e outras belezas naturais.
A Construtora Norberto Odebrecht ganhou a concorrência e, por óbvio, se encarregou da obra, mas subcontratou a OAS para executar o serviço ou parte dele. A OAS pertencia ao genro de ACM, César Araújo Mata Pires.
Os adversários políticos de ACM diziam que OAS significava “Obrigado, Amigo Sogro”, numa maldosa insinuação de que o governador protegia a construtora do genro. ACM negava: “a OAS já existia antes de ele casar com a minha filha”. Dizia mais: “quem quiser fazer governo sério tem que tomar lição na Bahia”.
No decorrer da construção da estrada, a Odebrecht procurou ACM, alegando necessidade de um aditamento no valor de vinte milhões de dólares, porque a obra estava dando prejuízo, inclusive para a OAS. ACM recusou: “Quero que a estrada seja construída pelo valor acertado na licitação”. E não aditou.
O mesmo aconteceu com a construção da Adutora do Feijão, na região de Irecê. ACM não fez aditamento dos contratos, mesmo instado a fazê-lo e, mais tarde, já noutro governo, houve construtora com dificuldades de cumprir o contrato.
Norberto Odebrecht, fundador da construtora e pai de Emílio (que viria a ser amigo de Lula da Silva) e avô de Marcelo, era amigo de ACM e ficou melindrado com a recusa do aditamento. Ameaçou transferir a sede da construtora para o Rio de Janeiro. ACM deu de ombros e a Odebrecht acabou mudando, por conta desse prejuízo alegado.
Depois, a OAS caiu definitivamente nas mãos de Léo Pinheiro, que presenteou Lula da Silva com o tríplex do Guarujá e a Odebrecht passou a ser administrada por Marcelo, que reformou o sítio de Atibaia para Lula, em parceria com a OAS, segundo o Poder Judiciário e por aí vai.
Léo Pinheiro e Marcelo Odebrecht se enrolaram com a Lava Jato, porque fizeram nada mais, nada menos, do que suas construtoras costumavam fazer: além de aditamentos em contratos, para ampararem as propinas, valiam-se do uso delas para tapetar o caminho em direção a agentes públicos corruptos.
O uso do “cachimbo deixa a boca torta”, diz o ditado. OAS e Odebrecht confirmaram isto. Deu no que deu.
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