A casa de Jorge Amado.

O endereço é conhecidíssimo em Salvador, por brasileiros e estrangeiros: Rua Alagoinhas, 33.

Eu morava na Ladeira da Barroquinha, nas imediações da Praça Castro Alves, em Salvador.

Domingo de sol, um amigo de Ribeira do Pombal me convidou para conhecer a casa de Jorge Amado, no Rio Vermelho.

Conhecer por fora, evidentemente, porque não tínhamos intimidade com o dono da casa para chamá-lo à porta. Éramos tímidos, desimportantes, parvos, ingênuos, tolos.

Bobagem. Fiquei sabendo depois que, se o escritor estivesse em casa, abriria a porta. Assim fazia com todos, independentemente da condição social.

Em entrevista ao escritor e jornalista Guido Guerra, baiano de Santaluz e cronista do Jornal da Bahia, Jorge Amado, que era seu amigo e o apelidou de “Papagaio Devasso”, disse irônico: “Eu sou um escritor de p…e de outros oprimidos” (A Noite dos Coronéis, edição da Academia de Letras da Bahia/Assembleia Legislativa, Salvador, 2005)

Santo André, São Paulo, 02 de dezembro de 2002, décadas depois. Contei a tímida visita para Zélia Gattai, viúva de Jorge Amado, na livraria Alpharrabios, a maior concentração de intelectuais, por metro quadrado, no ABC paulista: Rua Dr. Eduardo Monteiro, em Santo André.

Zélia inaugurava um busto de Jorge Amado no local e apresentava, para quem ainda não conhecia, Jardim de Inverno, belíssimo livro de sua autoria lançado pela Editora Record.

Conversamos muito, após os protocolos da solenidade, nos fundos da livraria. A paulista Zélia gostava muito de baianos. Sentia-se à vontade com os baianos, quando os encontrava fora da Bahia.

Santo André sempre foi muito familiar para Zélia. Jorge Amado militou lá, no histórico Partido Comunista Brasileiro (PCB),  nos difíceis tempos da ditadura Vargas.

Com aquele sorriso enigmático, Zélia perguntou: “por que não entraram?”.

Era na casa do Rio Vermelho que Jorge Amado fazia suas estripulias com os amigos Carybé, Calazans Neto, Mário Cravo, Mirabeau Sampaio, Dorival Caymmi, Guido Guerra e tantos outros. E escreveu parte de sua monumental obra. Um símbolo de simplicidade, da Bahia e de seu povo.

araujo-costa@uol.com.br

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