“Porque de feitos tais, por mais que diga, mais me há-de ficar ainda por dizer” (Luís de Camões)
Chorrochó, 1973. Pascoal de Almeida Lima, de Barra do Tarrachil, prefeito eleito pela ARENA (Aliança Renovadora Nacional) tomou posse em 31 de janeiro e carregou a administração aos trancos e barrancos até início de 1977, dentro do que lhe era possível.
Situo aqui a administração de Pascoal, porque foi dele a iniciativa de construir a Biblioteca Pública Municipal na sede, que deixou de ser biblioteca e, menos ainda pública, nas gestões subsequentes, que diluíram o descaso de tal forma que é difícil aquilatar qual delas foi mais negligente.
Salvo engano, o prédio da biblioteca primeiramente foi cedido ao Banco do Brasil e, mais tarde, à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Ou seja, a Prefeitura arrancou o benefício dos munícipes e o entregou a instituições reconhecidamente sólidas, que prescindem de ajuda municipal, ressalvados eventuais convênios que podiam ser flexibilizados em favor da população.
Não sei exatamente de quem partiu a obscura ideia, um baita desvio de finalidade, que redundou em retrocesso na história do município e uma nódoa que deve ser debitada às descuidadas gestões que Chorrochó teve até aqui, que nunca se preocuparam em reverter a situação.
A gestão que engendrou esse disparate certamente não priorizava a educação e a cultura e deixou Chorrochó carente nesse aspecto. Aliás, em muitos aspectos, mormente no que concerne à educação e cultura, propriamente.
Há registro de que na administração de Sebastião Pereira da Silva (Baião) foi destinada uma sala no Centro Administrativo para lá, pretensamente, instalar-se a biblioteca pública com o nome de Adelino Alves.
Entretanto, a biblioteca pública nunca funcionou naquele espaço, que foi ocupado pelo hoje extinto Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).
O fato é que Chorrochó não tem biblioteca pública, não prioriza essa hipótese e, pelo que se sabe, não há nenhuma perspectiva no sentido de organizar esse equipamento tão necessário para estudantes, pesquisadores e população em geral.
Quando o Poder Executivo Municipal claudica – e isto tem sido uma constante em Chorrochó – surge a necessidade de vigilância da Câmara de Vereadores.
Todavia, em Chorrochó, não se tem conhecimento de nenhuma iniciativa de membros da Câmara Municipal, em nenhuma ocasião, no sentido de sugerir que a Prefeitura cuide melhor da área de cultura do município, incluída aí a construção de um prédio para abrigar decentemente uma biblioteca pública.
Compreensível a indiferença. Biblioteca não pressupõe carreamento de votos para Suas Excelências. Vereadores adoram imediatismo e obras de visibilidade, para saírem por aí alardeando aos eleitores que reivindicaram tais obras e foram atendidos.
Todavia, fica aqui o registro: há algumas décadas, Pascoal de Almeida Lima abriu a janela e enxergou melhor o clarear da aurora, diferentemente dos gestores subsequentes que – parece – sofriam de miopia cultural e não conseguiram sair do escuro político.
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