“Quem atira com pólvora alheia não mede distância” (Ditado popular)
Há milhões de pessoas passando fome no Brasil.
Por isto, chega a ser um acinte à população que o Supremo Tribunal Federal, que tem o dever de cumprir as leis, tenha licitado a aquisição de sofisticados itens de bebida e alimentação, para deleite de sua elite inatingível aos pobres mortais: seus ministros, servidores e convidados famosos do tribunal.
A sofisticada lista vai de “medalhões de lagosta servidos com molho de manteiga queimada, pato assado com molho de azeitona ou laranja, vinho branco com, no mínimo, quatro premiações internacionais, cachaça de alta qualidade envelhecida em barris de madeira nobre, por um ou três anos, uísque 18 anos, carré de cordeiro, bobó de camarão, camarão à baiana, et cetera e tal.
Detalhe: o vinho precisa ter premiação internacional em, no mínimo, quatro vezes. Qual a importância disto? Vaidade, sem dúvida. O dinheiro é alheio, o tribunal pode gastar às escâncaras.
Total do desperdício: R$ 1,13 milhão.
Quem paga a conta da patuscada, da pândega, da farra? Os contribuintes, evidentemente, inclusive os miseráveis que recolhem impostos.
O acinte que o STF impôs à sociedade é tão grande, que foi proposta uma ação popular para suspender esse desperdício no Supremo Tribunal Federal. Até o Ministério Público entrou no assunto junto ao Tribunal de Contas da União.
Em Brasília, uma juíza federal de primeira instância, que ainda pensa que o Brasil é um país sério, suspendeu liminarmente a licitação, mas, ato contínuo, a instância superior a restabeleceu. Fica tudo como antes, o dito pelo não dito. Nada muda.
Dir-se-á: esta e outras barbaridades sempre existiram no Supremo Tribunal Federal. Certamente. Mas nunca houve questionamento, o que somente ocorre agora, porque a sociedade evoluiu, os mecanismos de transparência com os gastos públicos estão aí à disposição da população.
O desperdício no Supremo Tribunal Federal não é nenhuma novidade. Basta ver a lista de mordomias publicada na imprensa, que sustentam 11 ministros. Dados de 2016:
– 25 bombeiros civis;
– 85 secretárias;
– 293 vigilantes;
– 194 recepcionistas;
– 19 jornalistas;
– 29 funcionários cuidando da encadernação;
– 116 serventes de limpeza;
– 24 copeiros;
– 27 garçons;
– 8 auxiliares de saúde bucal;
– 12 auxiliares de desenvolvimento infantil;
– 58 motoristas;
– 7 jardineiros;
– 6 marceneiros;
– 10 carregadores de bens;
– 5 publicitários.
Gastos aproximados que o Supremo Tribunal Federal torra com o dinheiro público:
– R$ 15,78 milhões com assistência médica e odontológica;
– R$ 1,5 milhão com auxílio-moradia;
– R$ 2,162 milhões com educação pré-escolar;
– R$ 12 milhões com alimentação;
– R$ 204 mil com auxílio-funeral e auxílio-natalidade;
– R$ 10,5 milhões com informática.
O Tribunal tem gastos, ainda, com 87 veículos, sendo 3 caminhões.
Tem até cursos de yoga, massagem laboral e oficina de respiração para os funcionários.
Resumo: são, em média, 2450 servidores que tropeçam entre si no Supremo Tribunal Federal. Isto corresponde a 222 funcionários para cada um dos 11 ministros.
Então, precisam comer. E comer bem, lagostas, inclusive.
Então, precisam beber. E beber bem, vinho com premiação internacional, inclusive.
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