Em Macururé, Silma Eliane continua na trincheira

As elites sertanejas tendem a transferir para seus descendentes o cabedal político que construíram e ostentaram ao longo do tempo.

Desse modo se formaram as oligarquias e o coronelismo nordestino. E dessa forma se sustentaram décadas a fio.

Em Macururé, não foi necessariamente assim, mas o município guarda estrita semelhança com os mesmos valores que sedimentaram a cultura política nordestina como um todo.

Na legislatura de 1959-1963, a Assembleia Legislativa da Bahia contou com dois atuantes deputados voltados para o sertão: o pessedista Raimundo Reis de Oliveira (1930-2002), com raízes no antigo município de Santo Antonio da Glória e o soteropolitano e udenista João Carlos Tourinho Dantas (1922-2016).

Amigos irreverentes, esses deputados formavam uma dupla buliçosa e atenta aos interesses do povo sertanejo e deixaram marcas louváveis na historia da política baiana, mormente no sertão.

Ambos foram fundamentais para a aprovação da lei que, em 1962, elevou Macururé à categoria de município, emancipando-o de Glória, mérito estribado no esforço de outro batalhador em prol da emancipação, Diógenes Lemos de Moraes, dentre muitos que lutaram com o mesmo objetivo.

Município relativamente novo, com pouco mais de cinco décadas de emancipação político-administrativa e à semelhança de outros pequenos municípios do sertão, Macururé vem se sustentando mais na grandeza de seu povo do que, propriamente, no amparo que deve receber do Estado e da União Federal.

Ainda assim, parece um município com boas perspectivas, apesar de já ter balançado negativamente em algumas conquistas, como a supressão de sua condição de sede de comarca, em razão do alegado desequilíbrio orçamentário do Poder Judiciário da Bahia.

Como os demais municípios circunvizinhos, Macururé enfrenta problemas diversos, tais como falta de recursos, violência, ausência de estrutura, insuficiência de equipamentos públicos, o descaso das autoridades estaduais no que tange à segurança pública e até, frequentemente, falta de água.

A ex-prefeita Silma Eliane Adriano do Nascimento Carvalho enfrentou, como pôde e a seu modo, as turbulências do município, valendo-se de sua liderança política, de tal sorte que pavimentou o caminho para as administrações subsequentes.

Filha de político, seu pai Silvino Alves do Nascimento também foi prefeito em quatro oportunidades, numa época bem mais difícil, tendo em vista a escassez de recursos de que precisava para tocar os serviços essenciais de Macururé.

Ainda muito jovem, por força do ambiente em que vivia, até por uma inevitabilidade circunstancial, Silma Eliane entrou para a vida pública e, nesta condição, salvo melhor juízo, a população lhe confiou dois mandatos.

Graduada em Administração de Empresas pela Universidade Católica de Salvador, Silma Eliane se destacou em alguns feitos, a exemplo da luta por adutoras, poços artesianos e até pela viabilidade de uma empresa de exploração de minério, mas nem sempre exitosa em sua empreitada.

Contudo, não se pode negar o esforço desempenhado por Silma Eliane em prol de sua gente, embora tenha enfrentado, em alguma quadra, uma oposição vigilante, o que é saudável para toda e qualquer administração pública estribada na observância dos princípios democráticos.

A oposição é necessária, faz parte do jogo democrático e aperfeiçoa as ideias do adversário. O papel precípuo da oposição é este: achar defeitos. Deve achar defeitos, precisa achar defeitos, mostrar defeitos.

Todavia, Silma Eliane vem conseguido, estrategicamente, transitar entre aliados e opositores tradicionais, com louvável desenvoltura. Parece que deu certo, tem dado certo.

A ex-prefeita Silma Eliane tem demonstrado o desejo de unir as correntes políticas do município e esse desejo está substituindo, com vantagem,  eventuais entraves na política local.

Silma Eliane é desenvolta e irrequieta com as coisas do município de Macururé.

Continua na trincheira.

araujo-costa@uol.com.br

 

      

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