A imagem mais comum traduz o homem só, acompanhado do violão e de um banquinho.
Assim, a estátua em sua homenagem, erguida em Juazeiro, terra natal. Solitária, como são todas as estátuas. Mas a estátua de João Gilberto traz um quê de contrição e reverência à arte.
João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, filho de Juveniano Domingos e Martinha do Prado, saiu de Juazeiro, nas barrancas do São Francisco, para o mundo.
Deixa o enredo de uma lenda: a solidão voluntária, o isolamento, as manias, as esquisitices. Tudo isto fazia parte do mundo de João Gilberto.
Acordava às cinco da tarde, almoçava à meia-noite, jantava às sete da manhã. É lenda? Pode ser. Mas, em alguns casos, há registros de que seja verdade.
No Leblon, bairro da zona sul do Rio de Janeiro, onde morava, seus vizinhos de apartamento nunca o viram. Recebia a comida que pedia ao mesmo restaurante, há quarenta anos, por uma pequena abertura da porta. Os entregadores nunca o viram.
Recebia poucos amigos e, em certas ocasiões, não os recebia. Nunca explicou. Não precisava explicar. João Gilberto era assim.
Em seu caráter artístico resumia-se a elegância. Usava-a para dizer não às entrevistas, às badalações, aos holofotes.
Influenciou gerações, criou um gênero musical, a Bossa Nova, tornou-se expoente de uma forma de cantar e de encantamento.
Sabe-se que nos últimos anos de vida, João Gilberto viveu angustiado, envolto em problemas. Mas deixou a grandeza de sua arte.
Dizem que o mistério faz parte da construção dos mitos. João Gilberto por si só era um mistério.
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