Os regimes autoritários costumam asfixiar a imprensa, a menos que ela seja um apêndice do poder, como era o caso do jornal soviético Pravda, tradicional e subserviente, que se transformou em órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista.
Os regimes democráticos aturam-na ou simplesmente a compram e com isto silenciam-na.
A forma mais eficiente de qualquer governo calar a imprensa é encher-lhe de milionárias publicidades oficiais. E a imprensa publica o que o governo quer. É assim, sempre foi assim.
Há órgãos de imprensa sérios, outros nem tanto e outros que aderem ao poder, subservientemente. São aqueles que formulam estratégias de notícias nas cozinhas dos palácios oficiais e dos gabinetes, em troca de vantagens.
Contudo, o cerne é o seguinte: a imprensa há ser livre, em qualquer circunstância. Sempre.
País democrático que é, o Brasil ampara a livre manifestação do pensamento, a liberdade de expressão e o direito à informação, direitos inalienáveis conquistados pela sociedade.
Mesmo assim, quando presidente da República, Lula da Silva sonhava em colocar em prática uma certa regulamentação dos órgãos de imprensa. Noutras palavras, queria instrumentos de controle, tê-los à mão, censurá-los sub-repticiamente.
O ponto alto da insensatez de Lula deu-se em maio de 2004, quando o jornalista americano Larry Rehter noticiou no The New York Times o que, para os brasileiros, nunca foi e não é nenhuma novidade: Lula é chegado numa cajibrina, o que não é nenhum demérito.
Apesar de não ser nenhuma mácula gostar da “marvada”, Lula se ofendeu com a publicação, deu murros na mesa, vociferou palavrões impublicáveis e exigiu a imediata expulsão daquele jornalista do território brasileiro.
A expulsão acabou não acontecendo por conta da interferência do sábio ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Outro jornalista americano entra na vida de Lula, desta vez Glenn Greenward, do site The Intercept Brasil. Só que desta vez o ex-presidente não pede a expulsão desse jornalista. Ao contrário, abraço-o, afaga-o, pede que faça investigações. É que, para o ex-presidente, é interessante Glenn Greenward falar, escrever, investigar, publicar, mas a favor de Lula da Silva.
Franklin Martins, ex-guerrilheiro do grupo MR-8, que participou do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick em 1969, amigo pessoal de Lula, foi um dos entusiastas defensores do controle da imprensa no governo petista.
Durante a guerrilha, defendia a liberdade de imprensa, mas, contraditoriamente, sonhava em implantar um regime socialista no Brasil nos moldes soviéticos. Por isto entrou na guerrilha.
Franklin Martins foi ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no governo de Lula da Silva e fez de tudo para amordaçar a imprensa. Não conseguiu, por outras razões, principalmente esta: no governo de Lula também havia pessoas sensatas. No PT também há pessoas com juízo.
Sabe-se que Franklin Martins visitou Lula da Silva no cárcere. Nestes tempos de The Intercept Brasil, não se sabe sua opinião, hoje, sobre a liberdade de imprensa ou se ainda pensa em amordaçá-la.
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