A simples inauguração do aeroporto Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, gerou uma polêmica desnecessária.
A obra foi executada pelo governo da Bahia, com recursos da ordem de R$ 106 milhões, sendo R$ 75 milhões provenientes de verbas federais amparadas em emendas parlamentares de bancadas baianas e R$ 31 milhões oriundos de recursos do Estado. É o que consta.
Nada mais justo, como manda a praxe, que na inauguração se fizessem presentes as principais autoridades da Bahia e da União Federal.
Entretanto, o governador Rui Costa se recusou a comparecer à inauguração e, mais do que isto, achou desnecessária a presença da Polícia Militar para dar segurança ao evento. Sua Excelência alegou que, sendo o evento federal, a segurança do local devia ser feita por forças federais.
Nem uma coisa e nem outra. O evento não é unicamente federal, nem unicamente estadual. É da Bahia.
Tudo bem, se o argumento do governador fosse verdade.
A questão é que o serviço de protocolo da inauguração convidou mais participantes vinculados ao governo federal e ao município do que ao governo da Bahia. E o prefeito de Vitória da Conquista – parece – não é afinado com o governador.
Sabe-se que o Palácio de Ondina foi informado que o governador seria vaiado e, claro, neste caso, Rui Costa ou outro qualquer que estivesse em seu lugar, não iria ao evento. Rui não foi.
O estranho é que Paloma Rocha, filha do homenageado Glauber Rocha, também se negou a comparecer à inauguração, mas, presume-se, por uma questão meramente ideológica.
Só para lembrar: Glauber Rocha (1939-1981) quando esteve no exílio (1971-1976) visitou os maiores centros do comunismo internacional, Cuba, Congo, União Soviética, et cetera.
Muito inteligente, teve a sensatez de separar o joio do trigo e transitava da esquerda à direita, civilizadamente.
Em 1974, ainda no exílio, Glauber Rocha em entrevista à desaparecida revista Visão declarou que os militares que estavam no poder eram “legítimos representantes do povo” e, mais do que isto, classificou o general Golbery do Couto e Silva, principal ideólogo dos governos militares, como “gênio da raça”.
A esquerda da época alvoroçou-se, desceu a lenha no cineasta, mas Glauber Rocha deu de ombro. Ele sabia que já fazia parte da história. Seu valor não tinha fronteiras ideológicas.
Incompreensível, se se pode dizer assim, foi o governador Rui Costa misturar politiquice com questão institucional.
A gloriosa Polícia Militar da Bahia tem papel valoroso e faz parte desse papel, em certas ocasiões, viabilizar segurança às autoridades constituídas, pouco importa se amigas ou opositoras do governador de plantão.
Rui Costa arrancou de si mesmo o papel de anfitrião. Podia ter saído maior do episódio. Ele é bom político, mas tem recaídas petistas próprias, o que é natural. O PT soube forjar bem suas lideranças.
Quanto à recusa da filha de Glauber Rocha em participar do evento, talvez isto se deva a uma questão de foro íntimo, que deve ser respeitada, independentemente do viés ideológico.
O deputado Nelson Leal (PP), presidente da Assembleia Legislativa da Bahia também se recusou a comparecer à inauguração do aeroporto. Mas isto não tem nenhuma importância. Certamente sua ausência não foi notada.
A Bahia é maior do que todos eles.
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