“Nada está mais próximo da ingenuidade do que a malícia levada ao extremo” (San Thiago Dantas, 1911-1964)
As primeiras notícias dando conta das mensagens interceptadas envolvendo o então juiz federal Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato em Curitiba não deixavam dúvidas, para os mais atentos, de que o disparate se tratava de obra de apoiadores de Lula da Silva.
Agora, presos os supostos hackers, o desenrolar do fio da meada alcança a ex-deputada Manuela D’Avila (PC do B), candidata a vice em 2018 na chapa presidencial petista de Fernando Haddad.
Um dos presos citou, em depoimento à Polícia Federal, o nome da ex-deputada federal comunista, como sendo a ponte entre o delinquente e o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, que vem publicando as mensagens em conta-gotas.
Ou seja, a ex-deputada gaúcha se envolveu com a delinquência cibernética e contribuiu para a tentativa de desestabilização das instituições nacionais.
Manuela D’Avila é expoente do movimento “Lula Livre” e consta nas planilhas de propina da Odebrecht com o apelido de “Avião”. Talvez aí esteja o interesse da ex-deputada em jogar o que puder no ventilador com o intuito de anuviar o trabalho das investigações contra a corrupção.
Pergunta-se: o PT sabia ou participou da ação desastrosa da ex-deputada? Se sabia ou não, pouco importa. O PT não pode ser acusado de tudo. Neste caso, é preciso cautela. É preciso também desconsiderar, em certas ocasiões, o destempero verbal de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido. O que ela diz não tem importância, nunca teve.
Como não há crime perfeito, “os aloprados” de Lula da Silva acabaram por envolver toda a República, invadindo a privacidade de autoridades dos três Poderes, da presidência da República ao Supremo Tribunal Federal, passando pelo Legislativo Federal e tribunais superiores.
Os crimes perpetrados podem resvalar para o âmbito da segurança nacional e aí a situação dos envolvidos fica mais grave. As vísceras da República estão expostas, pondo em risco até mesmo os casos estratégicos do Estado brasileiro.
Lula da Silva quer isto? Acredito que não.
Flagrada em meio à prática de crime, apressadamente a ex-deputada Manuela D’Avila confessou ter viabilizado o contato entre o jornalista americano e o hacker de Araraquara.
Sem noção da gravidade, acabou distribuindo uma nota contraditória e ingênua, difícil de convencer. Manuela D’Avila diz que seu celular foi invadido e passou ao invasor o contato de Gleen Greenwald. Simples assim.
Como acreditar que a ex-deputada tenha passado o contato do jornalista de suas relações próximas para um criminoso não identificado que invadiu seu celular?
Como dizia o personagem português de um programa de humor: “essa nem brasileiro acredita”.
As investigações da Polícia Federal certamente vão derrubar a ingenuidade da ex-deputada do Rio Grande do Sul e dos demais envolvidos nesse crime contra as instituições nacionais.
Essas atitudes ingênuas de parte da esquerda acabam prejudicando Lula da Silva, cuja situação de encarcerado, por si só, já se afigura deplorável.
Alguns apoiadores de Lula metem os pés pelas mãos e passam por cima de seus advogados que, tecnicamente, veem lutando com bravura nos tribunais para provar a inocência do ex-presidente.
Dir-se-á que uma coisa é a questão jurídica, outra é a questão política. É verdade, mas não importa. O que importa é que o radicalismo da esquerda lulista acaba respingando nas ações judiciais e atrasando as decisões.
Quanto ao ministro Sérgio Moro, enquanto juiz federal, ele fez exatamente o que os pequenos juízes costumam fazer, ao arrepio da lei: investem-se da arrogância e ser arvoram donos do mundo. Acham que pode tudo e extrapolam a nobre função judicante.
A julgar pelas interceptações das mensagens, se verdadeiras, Sérgio Moro envergonhou o Poder Judiciário. Aqui não se discute se as mensagens trocadas com os procuradores foram ou não obtidas de forma ilegal.
Parece óbvio que a relação entre o então juiz Sérgio Moro e os procuradores deu-se de forma promíscua, medíocre, abominável, incompatível com a magistratura.
Como ministro da Justiça, Sérgio Moro deve procurar, nas entranhas do próprio ministério, a astúcia, a sapiência e o exemplo de outro ministro da Justiça, o cearense Armando Falcão (1919-2010), que foi ministro na democracia (governo Juscelino Kubitscheck) e na ditadura (governo do general Ernesto Geisel) e não deixou nódoas em suja biografia.
Quando não podia falar sobre assuntos delicados ou que não dominava, Armando Falcão simplesmente dizia: “nada a declarar”.
Agora, depois de presos os hackers, Sérgio Moro desandou-se a falar asneiras, que comprometem o exercício de sua função de ministro da Justiça.
Sérgio Moro fala demais. É inoportuno. Pior: não sabe falar, não sabe a hora de falar. Achar que pode tudo é uma tolice, nada acrescenta em sua já frágil biografia.
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