José Henrique de Souza Sobrinho
De família tradicional, alfaiate respeitável, bom-vivant, criador de caprinos lá pelas imediações da Rua dos Ferreiras, José Henrique saiu de Patamuté e foi morar na Rua Lafayete Coutinho, 824, no Bairro Piranga, em Juazeiro.
De lá me enviou uma carta – naquele tempo se escreviam cartas para os amigos – contando uma novidade: os japoneses estavam invadindo Patamuté. Exagerado e brincalhão, depois explicou.
É que a professora Maria Auxiliadora de Menezes, filha de Maria José de Souza Menezes (D. Zarica) e Manoel Pires de Menezes (Nozinho), que já não morava mais em Patamuté e ainda não carregava Kawabe no nome, estava prestes a se casar com um japonês.
Respondi ao amigo José Henrique e disse-lhe que por aqui em São Paulo havia muitos japoneses, eu até tinha alguns amigos descendentes deles, nissei, sansei, et cetera, turma muito boa, gente pra ninguém botar defeito.
A imigração japonesa contribuiu, consideravelmente, para o engrandecimento do Brasil. Gente valorosa, dedicada, honesta, trabalhadora. O Brasil deve muito aos japoneses.
José Henrique morreu ainda novo, deixou saudade, tenho boas lembranças dele.
Israel Henrique de Souza
Da mesma estirpe dos Henrique e Souza, Israel herdou dos ensinamentos bíblicos o dom da multiplicação. Semeou família numerosa, teve muitos filhos, que estão por aí, espalhados, honrando o nome do pai e a tradição de Patamuté.
Tive o prazer e a honra de ter sido amigo de Israel. Trabalhamos juntos. Bom sujeito, amigo insubstituível, prestativo, contemporizador, exemplo de homem de caráter. Exemplo de vida.
Parceiro comercial de Antonio Ferreira Dantas Paixão (1899-1976), inesquecíveis nossos sábados, em dias de feira em Patamuté, no “Armazém de Antonio Paixão” às voltas com couros e peles e o balanço, no final do dia, todos nós cansados, depois da faina que garantia nosso ganha-pão ou, pelo menos, completava. Israel era meu amigo e chefe.
O Armazém encerrou suas atividades em 1977, porque não suportou o desmoronamento do esteio que o sustentava: Antonio Paixão. A viúva Rachel do Carmo Paixão, que carinhosamente chamávamos “tia Rachel”, não tinha mais forças para manter a estrutura que o marido deixou. Coisas da vida.
Nunca ouvi um “não” de Israel, mas nunca esqueço do seu olhar de compaixão com minhas fraquezas carregadas de inexperiências.
Eu admirava sua luta, o cuidado com a criação de caprinos no “serrote”, a atenção com a família, o voltar para casa, sempre alegre, o sorriso puro, encantador, sincero.
Impressionava-me e a todos de Patamuté, o senso de responsabilidade de Israel. Quando resolvia entregar-se à boemia – e não era sempre que o fazia – fechava o estabelecimento comercial, entregava a chave e só depois ia se divertir.
Guardo boas lembranças de José Henrique e Israel. Grandes amigos, inesquecíveis amigos. Amigos de Patamuté.
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