“Saindo do restaurante de luxo, o ricaço dirige-se ao pedinte: Senhor, auxilia-me com qualquer coisa para a minha digestão” (Santos Fernando, Lisboa, 1925-1975, A sopa dos ricos).
O deputado-pastor Marcos Feliciano (PODEMOS-SP), que tem cara de galã decadente, gastou R$ 157 mil com dentista para, segundo ele, “reconstruir o sorriso com coroas e implantes na boca”.
Mais: sua Excelência justificou, galantemente, o desperdício do dinheiro do povo: “Sou político e pregador. Minha boca é minha ferramenta”.
Que o pastor Marcos Feliciano é político, está claríssimo. Basta saber que ele gastou R$ 157 mil com um dentista e isto não é qualquer um de nós, pobre mortal, que pode fazer.
Isto é façanha de político inescrupuloso, não há dúvida.
Esses cento e cinquenta e sete mil reais para embelezarem a boca do pastor foram pagos pela Câmara dos Deputados e, portanto, com dinheiro público.
Pelo nome do partido do deputado – PODEMOS – logo se vê que ele pode mesmo. E poder não é para qualquer um.
Isto me faz lembrar um dia em que pedi um quilo de castanha num supermercado. A atendente do setor deve ter visto em meu rosto a cara da pobreza. Incrédula, quase com desdém, me olhou e sapecou: “está podendo, hein!”.
Quando cheguei no caixa, vi que não estava podendo mesmo, mas equivocado. O preço que vi exposto era de 100 gramas e não de um quilo.
Mas, o acintoso nesta história do pastor é que a área de perícia da Câmara dos Deputados, que é composta de técnicos, rejeitou o pedido do deputado e negou entregar-lhe os R$ 157 mil, mas a Mesa Diretora da Câmara, que é composta de deputados colegas do pastor, autorizou o pagamento. E lá se foram os R$ 157 mil pelo ralo da indecência e da irresponsabilidade.
E Sua Excelência o pastor-deputado está por aí, contente que só pinto no lixo, rindo à toa, com os caríssimos dentes pagos por todos nós, pobres contribuintes.
Perguntar não ofende, embora os mestres em jornalismo digam que ofende, sim.
Pelo sim, pelo não, este humilde escrevinhador pergunta:
Quantos remédios, para atender pobres, em hospitais públicos e UPA’s da vida, seriam comprados com esse valor que o deputado gastou com o seu sorriso?
Quantos pratos de comida, para pessoas famintas, seriam comprados com esse valor que o pastor-deputado gastou com seus dentes?
Quanta merenda escolar seria comprada, para atender crianças desvalidas, com esse dinheiro que o pastor Feliciano gastou com seu tratamento dentário?
O Brasil precisa mudar.
araujo-costa@uol.com.br
Uma consideração sobre “O sorriso do deputado indecente”