O diálogo “cabuloso” do PT

Agosto é, por tradição, um mês de acontecimentos estranhos. Nas caatingas do Nordeste, diz-se mês do cachorro louco, mas são as raposas que costumam enlouquecer por lá.

Na política, foi num agosto que Getúlio Vargas se suicidou e noutro que Jânio Quadros renunciou à presidência da República, dentre muitos outros acontecimentos.

Agora, em agosto, a Justiça Federal do Paraná pretendia jogar Lula da Silva numa masmorra em São Paulo, crueldade que o Supremo Tribunal Federal impediu imediatamente. Decisão estapafúrdia da Justiça Federal, que não pode ser aplicada à condição de Lula como ex-presidente da República.

Em alvoroço, congressistas de diversos partidos correram ao STF e pediram para o tribunal impedir a transferência de Lula do Paraná para São Paulo, o que foi feito de imediato.

Muitos senadores e deputados estão sendo processados, geralmente por corrupção e não querem ser presos nas mesmas condições carcerárias que a Justiça Federal pretendia trancafiar Lula, num presídio estadual de São Paulo. Era preciso evitar o precedente.

Este mês, para o PT, não está sendo bom. Há uma briga de foice interna entre petistas, para definir com quem fica a presidência do partido em setembro: se continua com Gleisi Hoffmann ou se o bastão será passado para outro, menos radical e mais ajuizado. Há muitos no PT, ainda.

Lula da Silva já sinalizou que quer a presidência do partido entregue ao ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, espécie de recompensa pelo papel deprimente de fantoche que Haddad desempenhou na eleição presidencial de 2018, um tapa buraco colocado na condição de candidato, enquanto a situação jurídica de Lula não se definia.

O candidato dos sonhos do PT não era Haddad, nunca foi.  Mas, Lula não é ingrato, quer recompensá-lo pelo vexame.

Gleisi Hoffmann caiu em desgraça nalguns setores graúdos do PT, porque – dizem eles – ela não consultou o partido em algumas de suas decisões importantes como, por exemplo, o comparecimento à posse do ditador venezuelano Nicolás Maduro.

Muitos petistas souberam pela imprensa que Gleisi estava em Caracas no rega-bofe do Maduro, representando o PT. Mas o PT não sabia.

Contudo, quem decide mesmo é Lula da Silva. Gleisi fica, se ele quiser. Sai, se ele quiser. Fernando Haddad é apenas um detalhe sem importância. Se ele não teve importância na eleição presidencial, não terá, agora, como possível e eventual presidente nacional do partido. Continuará sendo marionete.

Agora em agosto, a Polícia Federal descobriu que o PT, quando no governo, manteve um diálogo “cabuloso” com o Primeiro Comando da Capital (PCC), a mais poderosa organização à margem da lei existente no Brasil. Mas o partido não é objeto de investigação.

Este escrevinhador recusa-se a acreditar que o PT, quando estava no governo, mantinha esse suposto e secreto diálogo com o PCC, em nível institucional. Não acredito que dirigentes petistas sejam capazes disto, prestem-se a isto.

É até admissível que petistas, isoladamente, tenham mantido esse canal com o PCC. Mas o PT, enquanto partido, não.

De qualquer forma, agosto não é um mês bom na seara da política. Não só para o PT.

araujo-costa@uol.com.br

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