Em Curaçá, o aniversário de uma nobre sexagenária

Gilberto da Silveira Bahia, na condição de prefeito de Curaçá (1959-1963) registrou feito memorável na vida sociocultural do município: o nascimento em 14 de agosto de 1959 da Sociedade dos Vaqueiros, marco importante para a história local.

Além do prefeito Gilberto da Silveira Bahia, honra e glória de Curaçá, foram fundadores da Sociedade dos Vaqueiros: José Alvino da Costa, José Ferreira Só (Zé de Roque), Aristóteles de Oliveira Loureiro (Tote), Abílio Gomes da Silva, Sindolfo Curcino Rosa, Guilherme Bernardes do Nascimento, Edgard d’Araújo, Albertino Nunes da Silva e Deoclécio Paulino da Silva.

O estatuto da entidade previa como principais objetivos “promover o desenvolvimento cultural da classe, concorrendo na medida do possível para seu alevantamento moral e intelectual, bem como auxiliar as suas famílias, instruindo com escolas”, além de outras metas.

Em 2019, a entidade-símbolo dos vaqueiros curaçaenses alcançou 60 anos. Sem dúvida, as décadas lhe reservaram lugar perene no calendário do município e atribuíram-lhe respeitabilidade e importância histórica.

A Sociedade dos Vaqueiros de Curaçá é um patrimônio dos vaqueiros, que cuidam dos seus rebanhos e vivem na caatinga em meio a espinhos, pedras disformes e árvores retorcidas. Enfrentam calor que, em tempo de estiagem, não raro chega a 40 graus. As intempéries são constantes na vida desses homens valorosos.

Em tempo de seca, além do manejo da palma e outras modalidades de ração, os vaqueiros cortam mandacaru e queimam seus espinhos para alimentar os animais que dependem da atuação diuturna de seus donos para a sobrevivência.

Ainda é comum a abertura de cacimbas para matar a sede dos rebanhos, quando a água desaparece dos riachos e pequenos reservatórios.

É muito difícil a vida desses abnegados nordestinos que, com dedicação admirável, criam suas famílias e possibilitam a educação dos filhos longe do cotidiano dos pequenos sítios e fazendas.

Assim, o papel precípuo da Sociedade dos Vaqueiros de Curaçá é resgatar e preservar a figura do vaqueiro, profissional do dia a dia da caatinga. Em Curaçá vem dando certo o objetivo nobre da instituição que os abriga e que atingiu a fase sexagenária.

Contudo, a festa dos vaqueiros foi criada em 1953 e, portanto, antecede à fundação da Sociedade dos Vaqueiros. É indissociável do calendário religioso da Paróquia do Bom Jesus da Boa Morte.

A Sociedade dos Vaqueiros enfeita a paisagem de Curaçá, cidade do submédio São Francisco que mantém casarões construídos a partir de 1843 e enriquece o esteticismo urbano.

Uma característica dos vaqueiros é o trabalho não assalariado. Eles geralmente cuidam de seus próprios rebanhos e a tradição registra que, quando cuidam de propriedades de terceiros – os patrões – o salário é substituído pelo sistema consuetudinário de partilha. Por esse sistema, a cada três ou quatro animais que nascem sob os cuidados do vaqueiro ele é aquinhoado com um deles.

A solidariedade entre patrão e vaqueiro afigura-se muito presente na vida do caatingueiro. Os animais de um e outro se misturam no mesmo rebanho e são criados com base na confiança mútua.

Outra característica dos vaqueiros nordestinos é a hereditariedade da profissão, que passa de pai para filho, sem nenhuma formalidade. Havia casos que os filhos adolescentes eram “batizados” pelos pais quando adquiriam a capacidade de cuidar dos animais na caatinga. Uma espécie de habilitação ungida pelo mais experiente para o filho poder enfrentar a vida difícil e a inevitável aridez do trabalho.

Ser vaqueiro é uma arte.

A Sociedade dos Vaqueiros enriquece Curaçá e seu povo. Parabéns para a entidade que atingiu 60 anos.

araujo-costa@uol.com.br

Deixe um comentário