Curaçá e o retrovisor da história

Uma das falhas mais comuns encontráveis na atuação dos administradores públicos é o sentar sobre seus problemas e apontar erros dos gestores que os antecederam.

Isto acontece nas três esferas de governo, sem exceção. Em Curaçá, não é diferente.

Alguns dizem que Curaçá está longe de encontrar o seu caminho. Outros asseguram que inteligentes descobridores capitaneados pelo prefeito Pedro Oliveira já o encontraram e pavimentaram-no com os louros do ineditismo administrativo. Só eles conseguem fazer o que dantes outros nunca tinham conseguido.

A turma do prefeito Pedro Oliveira diz que ele está fazendo a melhor administração da face da terra, o que não duvido, ao passo que seus possíveis adversários em 2020, em discreta pré-campanha, já se esforçam para abrir o caminho em direção às urnas e apontam os possíveis erros de gestão do atual alcaide.

Contudo, o que se vê em Curaçá é um repisar de citação de fatos acontecidos em administrações passadas, que não leva a lugar nenhum. Campanha se faz com ideias e não com o olho no retrovisor.

Por exemplo: É fato que o ex-prefeito Carlos Luiz Brandão Leite foi acusado de algumas irregularidades, o que não significa, necessariamente, que as tenha cometido tais quais entendem seus acusadores e como diz a letra da lei.

O Poder Judiciário dará a palavra final irretorquível.

Caiu no Ministério Público Federal a notícia de um certo superfaturamento de carne de bode para a merenda escolar. Diziam à época que o prefeito adquiriu, ou pretendeu adquirir, carne de bode ao preço de R$ 25,00 o quilo, quando, no mercado, o preço pairava entre R$ 12,00 e R$ 14,00.

Está sendo comum em redes sociais a recorrência desses assuntos em Curaçá.

Acusaram-no de ter sumido com aproximadamente 54 mil litros de leite do programa Fome Zero ou com o dinheiro correspondente. Isto virou um quiproquó danado, foi parar na Câmara Municipal, que instalou uma comissão de inquérito e daí seguiu adiante.

O vereador Theodomiro Mendes, ilustre curaçaense com robustas raízes em Patamuté, então presidente da Câmara, teve brilhante atuação nesse episódio, com o intuito de esclarecer à população a possível falcatrua da administração municipal. Aliás, fiscalizar é a função precípua do Legislativo.

A bancada de oposição ao prefeito que, na ocasião, era constituída de sete vereadores, salvo engano – e aqui esse número é irrelevante – estranhou também que essa carne de bode tenha sido fornecida por uma panificadora de Juazeiro.

Os vereadores alegaram que Curaçá é conhecido como grande e inegável criador de caprinos e, em razão disto, não se justificava que a Prefeitura tivesse adquirido a carne em Juazeiro e, estranhamente, numa panificadora.

Tinha sentido. Ainda sou do tempo que panificadora vendia pão e não carne. Mas tudo muda, inclusive as padarias.

Houve, também, o caso de valores que a Prefeitura descontava dos servidores e não repassava à credora Caixa Econômica Federal na ordem aproximada de R$ 2 milhões de reais, mas isto o prefeito disse à época que procurou a Caixa para solucionar o problema, era um mal entendido. Deve ter regularizado, mas isto lhe arranhou politicamente.

Teve até acusação de que servidores da Prefeitura viajaram em cruzeiro marítimo com despesas pagas pela Municipalidade. Se verdade, a Prefeitura deve ter sido reembolsada, porque a lógica não ampara que servidores públicos de Curaçá tenham  embarcado num cruzeiro a serviço.

Entretanto, denúncia e processo não significam condenação. O acusado exerce seu direito constitucional de ampla defesa e, lá na frente, pode até provar sua inocência e ser absolvido pelos tribunais competentes. Isto vale para Carlinhos Brandão, Pedro Oliveira ou quaisquer outros, o que não é novidade.

O ínclito Salvador Lopes Gonsalves, que o admiro desde sempre, também foi acusado de irregularidades à frente da Prefeitura de Curaçá, o que não significa dizer que sua conduta de homem público seja reprovável.

Salvador é idealista. Mais do que isto: é sério.

Há até um hilário edital publicado no Diário Oficial da União de 23/04/2018 notificando o ex-prefeito Salvador, por “encontrar-se em local incerto e não sabido”.

Até as formigas sabem o endereço de Salvador, mas a Caixa Econômica Federal não sabia. Coisas da política.

Sempre haverá o joio e o trigo. É preciso separá-los com cautela.

Mas, cá embaixo, na base das incompreensões, as paixões políticas valem-se das falhas dos adversários – eventuais ou não –  para tentar desconstruí-los politicamente. É uma forma arrevesada de fazer política.

Essa prática demonstra mais pequenez de ideias e ausência de ideário do que grandeza política para defesa das causas do povo que essas pessoas dizem abraçar.

Lembro de um texto redigido na segunda metade da década de 1960 pelo Dr. Pompílio Possídio Coelho, honra e glória de Curaçá, para a campanha de José Félix Filho (Zé Borges), grande filho de Poço de Fora, que foi prefeito de Curaçá (1963-1967 e 1971-1973):

“Os homens passam, as gerações passam, mas a terra fica para ser amada e admirada por seus filhos”.

Talvez o pessoal dessa geração política de Curaçá esteja precisando dos exemplos dos antepassados.

Preocupar-se somente com o retrovisor pode ofuscar a visão do horizonte.

araujo-costa@uol.com.br

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