“O peso de sentir! O peso de ter que sentir!” (Fernando Pessoa, 1888-1935)
Curaçá perdeu Juvêncio Ferreira de Oliveira. Maroto, Marotinho e outras qualificações mais com as quais conhecíamos e gostávamos de chamá-lo, carinhosamente, respeitosamente.
Maroto, por si só, era o respeito, a decência, a clarividência de espírito, a consideração, a humildade.
Em Curaçá, de onde nunca saiu, Maroto fez muitas façanhas na vida. Até foi político, exerceu a vereança.
Difícil falar de Maroto! Vem-nos “o peso de sentir, o peso de ter que sentir” e isto nos deixa inexplicavelmente prostrados diante da vida ou da morte.
Sobre Maroto, há brilhante texto escrito em abril de 2014, de autoria do professor Luciano Lugori, admirável inteligência da nova geração de Curaçá.
O autor do texto, registrava a impaciência de Maroto, à época, por volta dos 80 anos vividos, bem vividos:
“ Eu já estou morto! Não sei por que a morte não me leva logo”.
Não, Maroto. Ainda não era o momento de você partir. Você nos deu a alegria de seu convívio por mais alguns anos. O tempo balizou o parâmetro para delimitar sua presença entre nós, que lhe admiramos.
Maroto era um “vencedor do tempo”. Era natural que, naquela altura da vida – ou do tempo – ele sentisse essa vontade de manifestar o cansaço da vida. Vida correta, honesta, exemplar.
Contudo, Maroto era um cara esperto. Aliás, espertíssimo. Talvez dissesse aquilo filosoficamente, para coadunar com sua forma decente de viver. A vida de Maroto foi muito decente, irrepreensivelmente decente.
Muitas vezes, em anos distantes, participei de conversas agradáveis e costumeiras com Maroto. Conversas animadas, sinceras, convidativas. Suas gargalhadas pareciam uma forma de afastar os tropeços da vida.
Lugori vai longe, despretensiosamente, com essa história de dizer as coisas de Curaçá. E disse-o muito bem sobre Maroto.
À época o professor Lugori dizia:
“Juvêncio é um homem forte e sábio, por isso a morte ignora seu rogo birrento. Ele agora nos escuta com olhos. Basta observá-lo para dizer-lhe algo e ele tão logo retribuirá a atenção, seja com gestos ou expressões. E o seu olhar apontado para diante nós, nos diz muito mais do que a boca e suas próprias palavras seriam capazes de exprimir”.
Agora, com a partida de Maroto, não há o que acrescentar. Eis tudo.
Que Jesus Cristo, redentor do mundo, indique-lhe o caminho e que Deus o ampare.
Meus sentimentos a todos da família de Maroto.
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