
“Eu vim ao mundo para ter saudade” (Antonio Francisco da Costa e Silva, poeta piauiense, 1885-1950).
Ao apagar das luzes de 2017, a família Cordeiro de Menezes inaugurou importante marco em Chorrochó: o livro Memorial Cordeiro de Menezes, de autoria do Dr. Francisco Afonso de Menezes, chorrochoense de boa cepa, respeitável intelectual e membro da família objeto do estudo publicado.
Segundo o autor, o livro é o resultado de pesquisa acurada durante anos e só consolidada e publicada em 2017. Trata-se de um apanhado cuidadoso, confrontado com depoimentos e documentos sobre os Cordeiro de Menezes, desde a chegada dos ancestrais ao Vale do São Francisco, até os dias de hoje.
A apresentação do livro é da abalizada professora Maria Therezinha de Menezes, ícone da cultura de Chorrochó. Entrementes, o autor confessa gratidão “a outros parentes” que lhe prestaram informações valiosas sobre a família objeto da pesquisa.
A professora Therezinha trata a família Cordeiro de Menezes como “símbolo de união, fortaleza, respeito e honestidade”, com o que, certamente, Chorrochó constata e concorda.
Embora acanhado e inábil, quero tão somente – e mais uma vez – fazer o registro do aparecimento da obra em Chorrochó, sem alongamento desnecessário, estribado em duas razões que se me afiguram essencialmente fundamentais: o ineditismo da iniciativa e a certeza de que Chorrochó aos poucos está resgatando seu passado cultural tão espezinhado ao longo dos anos.
Por conseguinte, nada há a acrescentar, nem tenho condições de fazê-lo. Sou ignorante sobre o assunto e estou apenas a cavaquear. Mania de meter o bedelho, mania de dizer o que penso.
Entrementes, alegro-me em registrar que a história do município se enriquece sobremaneira com este livro, que trata de uma das famílias que se fizeram esteios e sustentáculos das tradições chorrochoenses.
Para emoldurar a obra, atribuindo-lhe maior riqueza, há uma Sinopse da lavra de Jorge Jazon Cordeiro de Menezes, também membro da família e atento defensor das tradições do município. Jorge faz um apanhado do caminho difícil trilhado pelos Cordeiro de Menezes, de sorte que emprestou ao livro contribuição valiosa.
Aliás, no que concerne às tradições locais, em nome da memória de seus antepassados, o autor mui sutilmente demonstra insatisfação quanto a eventuais arranhões que se vêm fazendo na condução dos festejos do padroeiro Senhor do Bonfim.
Diz o autor: “Mesmo com as mudanças que nossa Igreja sempre se propõe a fazer cada ano, ainda não nos retiraram a possibilidade de nós, os remanescentes da Família Cordeiro de Menezes, sentimo-nos enaltecidos, de fraternalmente louvarmos com todo fervor nosso Excelso Padroeiro”.
O livro é bom. Traz informações até aqui desconhecidas sobre os Cordeiro de Menezes, a trajetória, a luta e o interessante caminho como coadjuvantes na construção da história de Chorrochó.
O autor é conhecido. Tem boa e valiosa formação e se porta com absoluta fidelidade intelectual.
Memorial Cordeiro de Menezes é um livro para fazer parte das bibliotecas e escolas do município, de modo que possa delinear para os jovens e gerações futuras o entendimento no que tange à contribuição que cada membro da família Cordeiro de Menezes fez para o engrandecimento de Chorrochó.
O engrandecimento de um povo não se dá apenas economicamente, mas também se materializa através da cultura, mediante a formação do caráter coletivo e, sobretudo, pelo exemplo que passa às gerações futuras.
O Memorial Cordeiro de Menezes também é uma forma de sentir saudade.
Vir “ao mundo para ter saudade”, como dizia o poeta piauiense, é também uma forma de eternizar a memória de nossos antepassados.
Entendo que o livro de Dr. Francisco Afonso de Menezes tem também este papel de trazer a saudade.
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