PSL, vexame e vergonha

Os partidos políticos brasileiros sempre foram dominados por chefes políticos centralizadores, geralmente oligárquicos, poderosos e interesseiros. Não suportavam contrariedades.

Há exemplos clássicos e históricos de chefes políticos que mandavam e desmandavam na estrutura partidária em seus redutos subservientes. A democracia era um bicho que eles não conheciam. Nem tinham interesse em conhecê-la.

Em Alagoas: Ademar Medeiros, de Poço das Trincheiras; os Calheiros, de São Luiz e Flexeiras; Elísio Malta, de Pão de Açúcar; Silvestre Péricles de Góes Monteiro, que foi governador do estado e ministro do Tribunal de Contas da União.

Em Pernambuco: coronel Chico Heráclio, de Limoeiro; Agamenon Magalhães, de Serra Talhada.

Na Bahia: João Sá, coronel da Guarda Nacional, de Jeremoabo; Horácio de Matos, tenente-coronel da Guarda Nacional, da Chapada Diamantina; tenente Juracy Magalhães, que foi governador do estado, uma das maiores lideranças que a Bahia teve.

Mudaram-se as eras, mas a prática é a mesma. Mudaram-se os personagens, mas a tradição é a mesma.

Todavia o assunto aqui é o Partido Social Liberal (PSL), este vexame nacional que foi fundado em 1994 pelo empresário pernambucano Luciano Bivar, hoje deputado federal e presidente nacional do partido e uma espécie de coronel autoritário sem patente, quiçá de trajetória duvidosa.

O deputado Bivar sinalizou que pretende transformar o PSL em sua cozinha, administrar os recursos do partido a seu talante e mandar e desmandar, sem ouvir nenhum palpite democrático.

Antes nanico, impulsionado pela ventania de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, que disputou a eleição pelo partido, o PSL elegeu 52 deputados federais (tinha apenas um), 76 deputados estaduais, 4 senadores e 3 governadores. Hoje, diante da bagunça interna, os números podem não ser exatamente esses.

O PSL, por enquanto, é o maior partido na Câmara dos Deputados, depois do PT, que continua tendo a maior bancada.

Dir-se-ia um fenômeno partidário, não fosse a pequenez de seus dirigentes e a pobreza dos ideais que defendem.

Entretanto, a disputa por dinheiro e poder vem ocasionando uma briga de foice interna, de modo que o PSL está se esfacelando.

A agremiação se dividiu internamente, de modo que dirigentes e parlamentares se agridem mutuamente. Pior: publicamente, vergonhosamente.

Eles mesmos se apequenam e se canibalizam.

Uma briga em casa de meretrício seria mais civilizada. Lá, pelos menos tem regras.

Alguns parlamentares e dirigentes do PSL vão acabar saindo do partido e o encolhendo. A tendência é se abrigarem noutras agremiações. Ninguém no PSL suporta ninguém do PSL.

Político ruim tem sempre que mudar de zona. E o PSL tem político ruim de sobra.

Dirigentes e parlamentares estão de olho no dinheiro do partido, que não é pouco: R$ 100 milhões do fundo partidário e R$ 200 milhões do fundo eleitoral que será disponibilizado para as eleições municipais de 2020, em valores aproximados.

Como fartamente publicado pela imprensa, a briga vem se arrastando desde o surgimento de acusações de que o partido gastou dinheiro público com candidaturas “laranjas” nas eleições de 2018.

Na realidade, em quadro assim, o dinheiro vai para o bolso de corruptos, por via de regra, dos próprios dirigentes do partido. Quem menos viu o dinheiro foi o candidato “laranja”, que participou do laranjal na condição de cúmplice da ladroeira e, também e por consequência, deve ser responsabilizado.

Dirigentes do PSL são acusados de estarem envolvidos até o pescoço com tramoias envolvendo dinheiro do fundo eleitoral. Ainda não conseguiram provar que são honestos e inocentes e – parece – não vão conseguir provar tão cedo.

A briga no PSL envolve o presidente da República, que divide seu precioso tempo entre governar e fazer oposição a si mesmo, os filhos do presidente, que vão acabar derrubando o pai do governo e o presidente do partido e seus aliados, que estão pensando tão-somente na bufunfa destinada à agremiação.

Este modesto escrevinhador sempre disse que os partidos políticos do Brasil são vergonhosas excrescências, jamais partidos, nos termos previstos em seus estatutos. São amontoados de interesses em benefício de dirigentes e aliados corruptos.

Entretanto, esses arremedos de partidos políticos sustentam a democracia, esta sim, fundamental para todos os brasileiros.

Quanto ao PSL, o partido já entrou para a história política como uma hipocrisia partidária. Um vexame, uma vergonha.

araujo-costa@uol.com.br

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