Em Chorrochó, tempo de construir trincheiras.

O político Heitor Dias, que foi prefeito de Salvador (1959-1963) e senador (1971-1979) pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), baiano de Santo Amaro da Purificação, já velho e calejado da vida pública, sentenciou a conhecida e histórica frase: “agora estou ouvindo tudo, até conselhos”.

O município de Chorrochó, no sertão da Bahia, parece encaminhar-se para uma escolha parecida, mas sábia: tomar juízo ou ouvir conselhos da população, que vive em constante sofrimento.

Às voltas com conhecidos e crônicos problemas decorrentes de longa continuidade administrativa, penduricalhos e restrições de ordem jurídica ao prefeito, a  exemplo de processos judiciais à espera de julgamento, o município vai adentrar o ano eleitoral de 2020 tanto confuso do ponto de vista político quanto atarantado no que tange à escolha de seu futuro.

A oposição, como sempre, parece esvair-se, reduzida a um número ínfimo de políticos. Poucos se atrevem a contestar o governo municipal.

A atual administração, que não é lá um bom exemplo de decisões corretas, ainda vê chances seguras de manter-se no poder, por uma razão bastante simples: por enquanto, a perspectiva eleitoral dá conta de que o atual prefeito – se vier a concorrer e isto for possível sob o ponto de vista jurídico – sairá muito bem nas urnas. Hoje esta hipótese parece clara.

Todavia, em razão dos erros até aqui conhecidos, a gestão atual entrará na disputa eleitoral perdendo, o que é grave. E a oposição de Chorrochó até agora insiste em cometer o mais elementar dos erros políticos: o comodismo.

A oposição tímida, tem medo de escancarar a boca no sentido de cumprir o papel institucional de indicar caminhos e, sobretudo, apresentar projetos próprios para quando, eventualmente, assumir o poder. Mas resta a dúvida: a oposição de Chorrochó tem projetos?

Mas o que se vê em Chorrochó, sem dúvida, é uma demência política. A administração, valendo-se de um marketing arrevesado, usa obras e feitos de outras esferas governamentais, para pavimentar o caminho eleitoral.

A oposição, atônita, desempenha mero papel de circunstante, porque lhe faltam meios e estrutura para investigar, fiscalizar e construir estratégias de luta política.

Quando os tribunais de contas aprovam, mesmo com ressalvas, as contas do prefeito, isto é alardeado como se fosse um feito memorável. O prefeito, qualquer que seja ele, tem mesmo é que primar por contas inquestionáveis, enxutas, corretas. E não vangloriar-se porque as teve aprovadas.

Assim, a situação consolida-se e a oposição não chega a lugar nenhum.

O Poder Executivo não se engrandece, porque não realiza o bem comum esperado pela população e a oposição não constrói seu próprio caminho institucional, enquanto meio de defesa da sociedade. Falta-lhe, sobretudo, conhecer o nobre papel de ser oposição.

Os políticos de Chorrochó contentam-se em aparecer ao lado de autoridades – governador, deputados, senadores, secretários, etc – anunciando que reivindicaram ou conseguiram benefícios para o município, como se isto não fizesse parte de suas obrigações corriqueiras.

Situação e oposição apequenam-se diante dos problemas do município. O interesse público definha por falta de quem o defenda.

Chorrochó sente necessidade de sair desse marasmo político. Urge que a oposição encontre meios sadios para se tornar vigilante quanto a eventuais conchavos espúrios entre pessoas e grupos no ano eleitoral que se avizinha.

Em consequência deste quadro lúgubre, não é de todo recomendável administrar uma sociedade carente como a de Chorrochó baseada em propaganda, em detrimento de atos palpáveis, necessários, indispensáveis e urgentes.

É preciso que a administração tome juízo em benefício de todos. É preciso ouvir conselhos, não de pessoas, mas da própria consciência de quem tem o dever de governar.

Hoje, parece razoável entender que a única força capaz de enfrentar a situação em Chorrochó é liderada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), tendo à frente o vereador Luiz Alberto de Menezes (Beto de Arnóbio) ou quem ele apoiar como protagonista nas próximas eleições municipais.

Todavia, em municípios do interior, os partidos políticos nunca tiveram importância. O que vale mesmo é o conchavo entre líderes locais, quase sempre voltados para seus interesses pessoais,  infelizmente.

Neste cenário, para Chorrochó, Partido dos Trabalhadores (PT) ou Partido Progressista (PP), tanto faz. Igualam-se na forma de agir. Estão aí os exemplos em diversas esferas de governo.

Outro nome de peso para enfrentar a corrente política do prefeito Humberto Gomes Ramos (PP) continua sendo a médica Socorro Carvalho que –  dizem algumas fontes – está titubeante entre assumir o papel de candidata da oposição ou bandear-se para o lado do prefeito Humberto que, antes, já lhe deu uma rasteira monumental. À época ela não era confiável ao grupo político do prefeito, mas isto pode mudar. Ah, o tempo!

Padre Vieira disse que “o tempo atreve-se a colunas de mármore quanto mais a corações de cera”. Em política, o tempo também é implacável para derrubar estruturas.

Socorro Carvalho é líder respeitável em todo município. O que menos a população de Chorrochó espera da médica é uma eventual posição de neutralidade no pleito de 2020.

O homem público deve consultar sua consciência, sempre. Ou fará dela um arquivo empoeirado de ações pífias, vergonhosas e indefensáveis.

O município de Chorrochó não pode esperar.

É tempo de construir trincheiras em benefício da população.

araujo-costa@uol.com.br

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