As candeias de Patamuté, nascidas entre pedras e cactos, enfeitam as jazidas de mármore ou o que restou delas. São plantas nativas, resistentes, históricas, valiosos adornos do sertão.
Assim como as candeias, Patamuté também resiste à indiferença dos governos municipais. Uns vão, outros vêm. Sucedem-se negligentes e inoperantes, passam sem deixar saudade.
Em duas ocasiões o município de Curaçá escolheu para administrá-lo Theodomiro Mendes da Silva, ilustre filho de Patamuté, que governou nos períodos de 1973-1977 e 1983-1988.
Insta reconhecer que a administração de Theodomiro adormeceu relativamente a Patamuté. E se a administração adormeceu, Patamuté também caiu no sono por longos anos. Onde um dorme é natural que outros durmam.
A memória registra e os fatos atestam que a gestão de Theodomiro Mendes deixou uma estátua do excelso padroeiro Santo Antonio em frente à igreja, que continua lá impoluta, bela, fulgurante, encantadora.
Obras perenes? Não me recordo de outras. E não recordar não significa negá-las. Pode ser falta de conhecimento ou esquecimento mesmo.
O fato é que os prefeitos daquela quadra do tempo – e Curaçá não era exceção – ocupavam-se de cuidar da máquina burocrática do município e davam ênfase ao assistencialismo, um tanto cultural no Nordeste, até hoje.
O conceito de investimento público não se afigurava tão claro como hoje.
De outro turno, as leis que disciplinavam a administração pública eram frouxas, falhas, flexíveis, circunstantes.
Assim, vieram outros prefeitos e Patamuté resistiu a todos eles.
Patamuté é assim, apesar dos prefeitos, ainda não se acabou. Patamuté é grande demais, o povo de Patamuté é grande demais.
Theodomiro trabalhava na Rovel Couros e Peles S/A, que mais tarde tornou-se Brespel-Companhia Industrial Brasil-Espanha, mas tinha tirocínio, esperteza política e, sobretudo, entendia a língua do povo e transitava, com desenvoltura, em todas as camadas sociais do município.
Um dia ele e eu estávamos no escritório da empresa em Juazeiro e o assunto resumia-se a Patamuté, nossa predileção, como sempre. Theodomiro era apaixonado por Patamuté e por seu recanto, a Fazenda Ouricuri.
Na conversa, em frente à bonita orla sanfranciscana de Juazeiro, Theodomiro demonstrou sincera e impressionante lealdade ao lugar, a ponto de emocionar-se e dizer que jamais esqueceria aquele povo. Theodomiro entrava em estado de êxtase, quando o assunto resvalava para Patamuté.
Passados outros anos, Curaçá elegeu Carlos Luiz Brandão Leite, também filho de Patamuté, para um período de quatro anos, com a expectativa de mais um quatriênio, que não deu certo.
Vislumbrou-se à época mais uma oportunidade para o povo carente de Patamuté manter acesa a esperança do amanhã.
Carlinhos Brandão, descendente de respeitável e tradicional família de Patamuté, tem boa origem e linhagem, tanto do lado paterno, quanto da estirpe materna.
Filho de mãe professora, carrega em seu favor a irrepreensibilidade do caráter e a honradez familiar.
Com estas características, Carlinhos Brandão ostentava cacife para ser um bom prefeito e incluir Patamuté em suas prioridades administrativas. Não o fez.
Para ser breve, o prefeito atual Pedro Oliveira, que não é de Patamuté, caminha na linha dos antecessores, maquiando a realidade do lugar, de modo que Patamuté continua do mesmo jeito.
Quando deixar o cargo – seus admiradores dizem que será reeleito – o prefeito Pedro Oliveira estará habilitado para exercer outra profissão: a publicidade. O homem é bom de propaganda. Irrepreensível nesse particular.
As candeias de Patamuté continuam testemunhando o descaso, a passagem dos prefeitos, o sufocar da esperança.
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