“Quando o carteiro chegou
E o meu nome gritou
Com uma carta na mão
Ante surpresa tão rude
Nem sei como pude chegar ao portão”(Mensagem, Isaurinha Garcia, 1923-1993)
O carteiro que serve minha rua, que é jovem, não viveu a época em que as pessoas mandavam cartões desejando votos de “feliz Natal e próspero Ano Novo” para amigos, conhecidos e sujeitos de suas relações, ainda que comerciais.
Os envelopes continham traços de sinos e adereços alusivos à ocasião e dizeres bonitos, floridos, admiráveis. Abarrotavam as agências e postos dos correios em finais de ano.
Ao receber as correspondências, perguntei ao diligente estafeta se havia cartões de Natal. Ele me olhou com cara de surpresa, como se diante de uma novidade e respondeu seco, quase assustado:
– Acho que não.
Esse costume já não existe mais. As comunicações online extinguiram essa forma tão aconchegante e eficiente de relacionamento.
Hoje quase ninguém mais manda cartões de Natal, chega ser uma cafonice, um atestado de desinformação e até, em certos casos, um comportamento irrefletido diante de tanta parafernália eletrônica em tempo real.
Interessante é que a mudança se deu mui rapidamente. Eu que tinha o hábito de mandar cartões de Natal, vi-me ultrapassado de repente, quase jurássico. Em 2019 não mandei sequer um. Fui desencorajado pela onda de frieza que assola a cidade grande.
A evolução da sociedade vai dizimando, em seu bojo, as formas simples de convivência, destruindo friamente os relacionamentos e corroendo os vínculos sociais.
As pessoas estão menos calorosas, desinteressadas pelos outros, excessivamente críticas e egoístas, de sorte que muitas coisas perderam importância. Todavia, muitos de nossos valores estão ínsitos nas pequenas coisas.
Em breve os cartões de Natal serão lembranças e relíquias para colecionadores, assim como as cartas que não escrevemos mais e os recados verbais que não mais mandamos para amigos e familiares.
As futuras gerações não chegarão a conhecê-los.
As cartas foram substituídas por mensagens eletrônicas frias, sucintas, automáticas, protocolares.
A emoção, ao receber as cartas, que Isaurinha Garcia tão bem retratou em Mensagem, realmente é coisa do passado, assim como os cartões de Natal.
Feliz Natal a todos.
araujo-costa@uol.com.br